Tragédia de Hillsborough não foi acidental

Tribunal concluiu que erros graves da polícia foram determinantes nos incidentes que resultaram na morte de 96 pessoas em 1989.

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A tragédia de Hillsborough aconteceu a 15 de Abril de 1989 AFP

A morte de 96 adeptos do Liverpool no Estádio de Hillsborough, em 1989, não foi acidental, decidiu o júri de um tribunal reunido em Warrington, concluindo também que existiram erros da polícia inglesa que contribuíram para a tragédia.

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A morte de 96 adeptos do Liverpool no Estádio de Hillsborough, em 1989, não foi acidental, decidiu o júri de um tribunal reunido em Warrington, concluindo também que existiram erros da polícia inglesa que contribuíram para a tragédia.

Após dois anos de exposição de provas e da mais longa investigação legal em Inglaterra, o júri concluiu que o comportamento dos adeptos do Liverpool não contribuiu para o incidente em Sheffield, que provocou também centenas de feridos.

Os jurados consideraram também que a polícia inglesa cometeu erros, tanto no planeamento da segurança da meia-final da Taça de Inglaterra, entre o Liverpool e o Nottingham Forest, como no dia do jogo, que contribuíram para o caso mais grave ocorrido nos estádios britânicos.

Desde Março de 2014, data do início do julgamento em Warrington, a 25 quilómetros de Liverpool, os jurados ouviram mais de 800 testemunhos sobre os incidentes motivados pela sobrelotação do estádio do Sheffield Wednesday.

O novo inquérito foi ordenado em 2012, após forte pressão por parte das famílias das vítimas, na sequência da anulação do veredicto inicial, que apontava para a morte acidental dos 96 adeptos, no dia 15 de Abril de 1989. Nesta terça-feira, chegou ao fim um longo calvário judicial.

De entre as várias conclusões a que o júri chegou destacam-se, naturalmente, as que apontam o dedo à intervenção policial. É mencionada a criação de uma situação perigosa na zona dos torniquetes, erros na caixa de controlo quando foi ordenada a abertura dos portões, cálculos errados quanto à real capacidade do estádio e na certificação de segurança da estrutura.

A este quadro, foi acrescentado, como tendo decisivamente contribuído para a tragédia, um atraso na declaração de situação de emergência, o que atrasou a resposta dos serviços de socorro, para além de ter sido concluído que os dirigentes dos clubes deveriam ter adiado o jogo por alguns minutos quando se aperceberam de que havia ainda uma grande quantidade de adeptos fora do recinto.


"Creio que mudámos parte da história. Parece-me que é esse o legado que os 96 vão deixar", resumiu Margaret Aspinall, mãe de uma das vítimas e uma das promotoras da acção em tribunal. Barry Devonside, pai de um jovem que morreu no estádio, com 18 anos, confessou a surpresa: "Nem nos meus melhores sonhos pensei que íamos conseguir esta decisão", vincou, citado pela BBC.

Quem também reagiu à setença foi o primeiro-ministro britânico, David Cameron, considerando este dia como "histórico". "Todas as famílias e sobreviventes têm agora confirmação oficial do que eles já sabiam ser verdade, que os adeptos do Liverpool não tiveram culpa alguma no desastre que se desenrolou em Hillsborough".