Kobe Bryant: amaram-no e odiaram-no mas todos o admiraram

Chegou ao fim a carreira controversa e impressionante daquele que foi, indiscutivelmente, um dos melhores basquetebolistas de todos os tempos da NBA.

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Desafiador, arrogante, sublime, mau carácter. São muitos e variados os adjectivos que se podiam utilizar para caracterizar Kobe Bryant, basquetebolista e figura incontornável da história recente dos Los Angeles Lakers, uma das mais importantes equipas da Liga Norte-americana de Basquetebol profissional (NBA). Mas há uma palavra incontornável quando se olha para a carreira do norte-americano que terminou na passada madrugada: admiração.

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Desafiador, arrogante, sublime, mau carácter. São muitos e variados os adjectivos que se podiam utilizar para caracterizar Kobe Bryant, basquetebolista e figura incontornável da história recente dos Los Angeles Lakers, uma das mais importantes equipas da Liga Norte-americana de Basquetebol profissional (NBA). Mas há uma palavra incontornável quando se olha para a carreira do norte-americano que terminou na passada madrugada: admiração.

É fácil apontar o dedo a um homem que chegou a ser acusado de agredir sexualmente uma mulher de 19 anos, empregada num hotel onde ficou hospedado dias antes de ser operado a uma lesão num joelho, no Verão de 2003. O caso acabaria por não ser julgado em tribunal porque a vítima retiraria a queixa de violação depois de Kobe Bryant ter admitido ter tido um comportamento adúltero e apresentado publicamente desculpas à mulher, embora nunca tenha assumido a culpa pelo sucedido.

Mas não é fora das quatro linhas que o astro Kobe Bryant vive. A sua existência só ganha sentido e dimensão no interior dos campos de basquetebol. Foi lá que “Black Mamba” (alcunha que ele próprio se atribuiu depois de ter visto o filme de Quentin Tarantino - “Kill Bill” - no qual esta espécie de cobra, ágil e particularmente agressiva, é utilizada como nome de código de uma assassina, protagonizada por Uma Thurman) alcançou os feitos que o tornaram um dos expoentes da modalidade.

A sua despedida, na madrugada desta quinta-feira, foi, nesse aspecto, paradigmática. Frente aos Utah Jazz, no 1566.º jogo como profissional, Kobe Bryant foi o autor de uma exibição estrondosa. Como se estivesse no auge da sua prodigiosa carreira de 20 anos, o extremo-base dos LA Lakers, com 37 de idade, marcou 60 dos 101 pontos da sua equipa, sendo fulcral na reviravolta do marcador (a partida terminaria com o triunfo dos homens da casa por 101-96). A equipa, como em tantos outros jogos, jogou em função dele e para ele e Kobe respondeu acertando 22 vezes no cesto em 50 lançamentos de campo, naquele que foi o melhor jogo de despedida de um jogador da NBA.

Pela sexta vez na sua carreira, Kobe alcançou a marca dos 60 pontos num encontro, fazendo com que o Staples Center, casa dos LA Lakers, se rendesse uma vez mais àquele que, a partir de agora, será uma lenda. A expectativa era tanta que, se alguém quisesse comprar um bilhete para uma zona intermédia do pavilhão em segunda mão (a única forma de o conseguir já que a lotação do recinto está esgotada para todos os encontros dos LA Lakers desde há muito tempo) teria que desembolsar cerca de 1000 dólares (cerca de 900 euros). Chegou a pagar-se 27.500 dólares (24 mil euros) para um lugar que estivesse junto ao terreno de jogo.

Filho de Joe Bryant, um antigo jogador da NBA, Kobe Bryant chegou à NBA aos 17 anos, vindo directamente do liceu, sem passar pelas equipas universitárias. No draft de 1996, foi escolhido pelos Charlotte Hornets, mas foi trocado por Vlade Divac tendo, por isso, só vestido a camisola dos Lakers, onde foi cinco vezes campeão da NBA, duas vezes MVP (jogador mais valioso) das finais, MVP da temporada 2007-08, 18 vezes escolhido para o All Star, terceiro jogador com mais pontos marcados na história do NBA - 1346 (atrás de Kareem Abdul-Jabbar, 1560, e Karl Malone, 1476) e o segundo que mais pontos apontou num só encontro (81, em 2006, frente aos Toronto Raptors, só ultrapassado de Wilt Chamberlain), duas vezes campeão olímpico…

Contemporâneo de outros “monstros” da NBA, como Michael Jordan ou Shaquille O’Neal (com este último teve uma relação tensa apesar dos três títulos de campeão que ganharam juntos nos Lakers e que acabou com a saída para os Miami Heat do seu rival) foi o último dos três a abandonar a modalidade, depois de várias lesões que o foram debilitando e levaram à decisão, anunciada em Novembro, de acabar com a carreira. “Dei-me conta de que tinha alcançado tudo aquilo com que tinha sonhado”, declarou num vídeo exibido na sua derradeira partida, no final da qual não conseguiu evitar comparar-se a um super-herói: “Se todos tivessem gostado de mim, isso teria sido kriptonite para mim.”