Europeus gastam 24 mil milhões de euros por ano em drogas

Estima-se que os mercados ilegais de droga representem um quinto da criminalidade global no mundo.

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A cannabis e a heroína são as drogas ilegais mais usadas e lucrativas a circular na Europa AFP/Miguel ROJO

A cannabis e a heroína são as drogas ilegais mais usadas e lucrativas a circular na Europa, representando 38% e 28% do mercado, respectivamente. As tecnologias e a globalização são dois “factores-chave” nas alterações do mercado europeu das drogas ilícitas, onde no ano passado se gastaram pelo menos 24 mil milhões de euros, alerta um novo relatório anual do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (OEDT) apresentado nesta terça-feira.

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A cannabis e a heroína são as drogas ilegais mais usadas e lucrativas a circular na Europa, representando 38% e 28% do mercado, respectivamente. As tecnologias e a globalização são dois “factores-chave” nas alterações do mercado europeu das drogas ilícitas, onde no ano passado se gastaram pelo menos 24 mil milhões de euros, alerta um novo relatório anual do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (OEDT) apresentado nesta terça-feira.

Com 38% do mercado ilícito de estupefacientes, a cannabis continua a ser a droga mais procurada pelos europeus: estima-se que tenha sido consumida por cerca de 22 milhões de adultos na UE no último ano e que 1% da população europeia a use quase diariamente. Com um mercado avaliado em 9,3 mil milhões de euros em toda a Europa, a cannabis herbácea cultivada na UE continua a dominar o mercado, enquanto o haxixe (resina de cannabis), oriundo sobretudo de Marrocos, tem vindo a aumentar sua potência.

Em segundo lugar surge o mercado da heroína, que terá valido em 2015 cerca de 6,8 mil milhões de euros. Esta é também a substância ilícita responsável pela maioria das mortes, bem como dos custos sociais associados ao uso de estupefacientes. Depois de um período de declínio, sinais recentes apontam para uma maior disponibilidade desta droga nos países da UE. É no Afeganistão que a produção do ópio se mantém geralmente elevada e as novas rotas emergentes envolvem a África, o Cáucaso do Sul, a Síria e o Iraque. Porém, a rota dos Balcãs continua a ser um “corredor” fundamental para a entrada de heroína na UE.

A cocaína, que representa 24% do mercado, valerá cerca de 5,7 mil milhões de euros na União. O consumo, feito sobretudo na Europa Ocidental e do Sul, tem-se mantido estável nos últimos anos, embora, à semelhança do que acontece com a heroína, o estupefaciente esteja de mais fácil acesso. Quanto à produção, tem dado sinais de aumento depois de um período de declínio, embora ainda não se consiga definir com precisão onde é produzida e em que quantidades. O mar e a terra continuam a ser as vias preferenciais no tráfico de cocaína para a Europa, com a Colômbia, Brasil e Venezuela a manterem-se como os principais portos de partida.  

100 novas substâncias

Com menores receitas encontram-se os estimulantes sintéticos: anfetaminas, metanfetaminas e MDMA (frequentemente referido como ecstasy). Na Europa, Holanda e Bélgica são mercados importantes na produção de MDMA e anfetaminas, enquanto a maior parte das metanfetaminas provém da República Checa.

O relatório inclui ainda dados sobre novas substâncias psicoactivas que não dão sinais de abrandamento. Só no ano passado foram encontradas 100 novas substâncias a circular na Europa, aumentando para mais de 560 as que são monitorizadas pelo Sistema de Alerta Rápido da União Europeia. O documento sublinha que estas substâncias são vendidas de forma “aberta” e como substitutos legais das drogas ilícitas.

A globalização e a tecnologia são ainda consideradas no relatório como “factores-chave” nestes mercados, já que permitem produzir maiores e mais potentes quantidades, facilitando a distribuição e o posterior consumo. Além disso, os autores alertam ainda para as “ramificações” deste mercado, com consequências ao nível do financiamento de grupos criminosos organizados, corrupção, danos ambientais e impacto sobre as empresas, economia e a sociedade em geral.

Os autores do relatório afirmam que a produção e tráfico ilegal de drogas continuam a representar um “grande negócio”, estimando-se que sejam responsáveis por 0,1% a 0,6% do PIB nacional dos oito Estados-Membros para os quais existem dados disponíveis — República Checa, França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Suécia e Reino Unido — entre 2006 e 2013. Segundo a Agência das Nações Unidas para as Drogas e Crime (UNODC), os mercados de droga ilícita representam um quinto da totalidade da criminalidade no mundo.

Texto editado por Tiago Luz Pedro