Comité de ética da FIFA afasta Blatter e Platini por um período de oito anos

Presidentes da FIFA e da UEFA banidos de toda a actividade ligada ao futebolpor causa de pagamento de 1,8 milhões de euros que levantou suspeitas. Ambos garantem que vão lutar contra a decisão.

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Joseph Blatter e Michel Platini eram, até há pouco tempo, duas das figuras mais poderosas do futebol mundial. O suíço presidente da FIFA e o francês que lidera a UEFA, com 79 e 60 anos, respectivamente, eram reis e senhores da modalidade mais popular do mundo. Blatter, reeleito para um quinto mandato à frente da FIFA em Maio, e Platini, que se dispunha a suceder-lhe após o suíço ter anunciado que deixava o cargo, são agora proscritos. O comité de ética da FIFA deliberou suspender os dois dirigentes de toda a actividade ligada ao futebol por um período de oito anos, com efeitos imediatos. Tanto Blatter como Platini vão recorrer da decisão.

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Joseph Blatter e Michel Platini eram, até há pouco tempo, duas das figuras mais poderosas do futebol mundial. O suíço presidente da FIFA e o francês que lidera a UEFA, com 79 e 60 anos, respectivamente, eram reis e senhores da modalidade mais popular do mundo. Blatter, reeleito para um quinto mandato à frente da FIFA em Maio, e Platini, que se dispunha a suceder-lhe após o suíço ter anunciado que deixava o cargo, são agora proscritos. O comité de ética da FIFA deliberou suspender os dois dirigentes de toda a actividade ligada ao futebol por um período de oito anos, com efeitos imediatos. Tanto Blatter como Platini vão recorrer da decisão.

Os dois dirigentes já tinham sido provisoriamente suspensos em Outubro, quando o comité de ética decidiu afastá-los por 90 dias. Em causa estavam suspeitas de corrupção num pagamento de dois milhões de francos suíços (cerca de 1,8 milhões de euros) feito por Blatter a Platini, no ano de 2011, relativo a serviços prestados à FIFA pelo francês alguns anos antes. “No período de 1998 a 2002 fui contratado pela FIFA para trabalhar sobre um largo conjunto de questões relacionadas com o futebol. Tratou-se de um trabalho a tempo inteiro e as minhas funções eram conhecidas de todos”, havia explicado o francês.

Tanto a defesa de Blatter como a de Platini sempre defenderam a legalidade do pagamento, mas as explicações não convenceram o comité de ética da FIFA, que não viu qualquer base legal no acordo escrito assinado pelos dois dirigentes a 25 de Agosto de 1999. As alusões a um acordo verbal feitas nas audiências não convenceram o comité de ética, que as rejeitou. Para além da suspensão, Blatter foi multado em 50 mil francos suíços (cerca de 46 mil euros) e Platini em 80 mil francos suíços (cerca de 74 mil euros).

O comité de ética da FIFA entendeu que Blatter e Platini violaram normas do código de ética do organismo que tutela o futebol mundial, no que diz respeito à oferta e aceitação de presentes e outros benefícios, mas também relativamente a conflito de interesses, aos deveres de lealdade no exercício das funções e às regras gerais de conduta.

“Saco de pancada”
“Lamento imenso. Lamento. Lamento continuar a servir de saco de pancada. Lamento que, enquanto presidente da FIFA, seja este saco de pancada. Lamento pelo futebol. Lamento pelos mais de 400 elementos que trabalham na FIFA. Lamento. Lamento pela forma como sou tratado neste mundo de qualidades humanitárias. Lamento pela FIFA. E lamento por mim, pela forma como sou tratado neste mundo”, afirmou um visivelmente frágil Blatter, com a barba por fazer e um penso sob o olho direito. O suíço de 79 anos passou uma semana no hospital em Novembro, numa experiência que o próprio descreveu como próxima da morte.

O porta-voz de Blatter, Klaus Stoelker, confirmou à agência AFP que seguirá para o Tribunal Arbitral do Desporto um recurso à decisão do comité de ética. O presidente cessante da FIFA irá recorrer também às instâncias internas do organismo que tutela o futebol mundial e aos tribunais civis suíços. “Vou lutar por mim e pela FIFA. O comité [de ética] não tem o direito de decidir contra o presidente. Isto não tem nada a ver com ética, mas apenas com deveres financeiros e administrativos. Houve um erro, mas nada que esteja relacionado com os regulamentos de ética”, vincou Blatter.

Da mesma forma, Platini também prometeu lutar contra a suspensão que lhe foi aplicada pelo comité de ética da FIFA: “Paralelamente a um recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto, estou determinado a recorrer à justiça civil para obter a reparação integral por todos os danos que tenho sofrido ao longo destas semanas e em todo o processo”. “Esta decisão não me surpreende. Foi orquestrada para manchar a minha reputação por organismos que eu conheço bem e aos quais recuso conceder qualquer legitimidade ou credibilidade. O meu comportamento sempre foi irrepreensível e estou tranquilo com a minha consciência”, garantiu ainda o dirigente francês, considerando a suspensão uma “farsa”.

“A UEFA tomou conhecimento da decisão do comité de ética da FIFA em suspender o presidente da UEFA, Michel Platini, por um período de oito anos de toda a actividade futebolística. A UEFA está, naturalmente, desapontada com esta decisão, que, ainda assim, poderá ser alvo de um pedido de recurso. Uma vez mais a UEFA apoia Michel Platini neste processo, bem como na oportunidade de preservar o seu bom-nome”, podia ler-se num comunicado do organismo que tutela o futebol europeu.

Na mais recente diligência das autoridades norte-americanas, que investigam um esquema de subornos no continente americano, foram detidos dois elementos da hierarquia do futebol mundial e foi formalizada acusação contra 16. Paralelamente, na Suíça decorre uma investigação ao processo de atribuição dos Mundiais de 2018 (Rússia) e 2022 (Qatar) pela FIFA. E o FBI está a debruçar-se sobre os mais de 92 milhões de euros que terão sido pagos em subornos pela International Sport and Leisure (ISL) – uma empresa suíça que actuava na área do marketing desportivo e tinha ligações fortes à estrutura da FIFA – para averiguar se Blatter teria conhecimento de todo o esquema.