“Adeus” no mundo dos “até já”

A emigração é um fenómeno que traz sentimentos contraditórios a quem o vive ativa e passivamente, sobretudo complicado quando marca o início de uma relação à distância

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Atlas Green/Unsplash

Atualmente, a população portuguesa não se cinge, minimamente, ao território português. Com a mais elevada taxa de população emigrada dos países da União Europeia, Portugal vê vários milhares dos seus habitantes a emigrar todos os anos. Há, assim, mais de cinco milhões de portugueses espalhados pelo mundo, sendo que os novos emigrantes perfazem um total superior a 50 mil.

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Atualmente, a população portuguesa não se cinge, minimamente, ao território português. Com a mais elevada taxa de população emigrada dos países da União Europeia, Portugal vê vários milhares dos seus habitantes a emigrar todos os anos. Há, assim, mais de cinco milhões de portugueses espalhados pelo mundo, sendo que os novos emigrantes perfazem um total superior a 50 mil.

É um fenómeno que traz sentimentos contraditórios a quem o vive ativa e passivamente, sobretudo complicado quando marca o início de uma relação à distância.

Na fase de projeto, prepara-se uma munição de redes sociais e de “chats” que possam encurtar o distanciamento. Planeiam-se jantares diante de um ecrã com o “Skype” ligado, noites com o telemóvel pousado na almofada a receber e a enviar mensagens, ou tardes de passeio com o “Instagram” como testemunha.

É certo que ajuda a aceitar o que aí vem e, mesmo, a lidar com a separação, mas quando se passa à etapa da execução, rapidamente se percebe que um ecrã é só um aparelho frio, com o seu próprio cheiro eletrónico, e que não há nada que substitua o calor do toque da pessoa que está reduzida a uma imagem, às vezes com má ligação, sem o perfume familiar que fica na roupa e nas mãos.

A partilha dos momentos pode ser constante (às vezes quase doentia) e os horários podem girar em torno do acesso mútuo à internet para que as novidades não fiquem esquecidas. Contudo, pouco a pouco tudo vai mudando e os pensamentos que estávamos habituados a contar àquela pessoa vão sendo espalhados por aqui e por ali, consoante a companhia que temos para almoçar ou fumar. Os amigos, sabendo-nos sozinhos, vão-nos convidando para convívios e partilhas palpáveis – humanas – de momentos. As saudades apertam e doem, mas os casais separados pela distância tiveram de optar pelo desenrolar de vidas independentes, em princípio temporariamente, com cada elemento no seu país de acolhimento, o que envolve o estabelecimento de contactos e amizades que, de uma forma ou de outra, vão desempenhando o seu papel na luta contra a solidão e o isolamento social.

E é por isso que muitas destas relações falham. Não se trata de falta de amor nem de preguiça, mas de uma adaptação ao novo dia a dia, tão frequentemente – e erradamente – criticável pelos olhares alheios de quem nunca passou pelo mesmo. Todavia, esta acomodação implica uma escolha na qual estão em jogo variáveis diversas como o país, a família, os amigos, a vida profissional e a relação com a pessoa que partiu/ficou.

No final fica, eventualmente, a dúvida amarga de se ter, possivelmente, desistido antes do tempo ou de se ter feito a escolha errada, porque escolher é uma das mais complicadas tarefas que se pode pedir a um ser humano, sobretudo num confronto destes, de presente e de futuro.