Toshiba vai ser reestruturada e direcção admite despedimentos

Ondas de choque do escândalo de manipulação de contas continuam a afectar a empresa japonesa.

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O presidente Masashi Muromashi, antes da conferência de imprensa onde revelou parte da estratégia para ultrapassar os maus resultados da Toshiba REUTERS/Toru Hanai

Numa conferência de imprensa nesta quinta-feira, o presidente executivo da Toshiba, Masashi Muromachi, disse aos jornalistas que a maquilhagem nas contas que inflacionou os lucros em cerca de 1,125 mil milhões de euros obriga a empresa a “tomar medidas urgentes”.

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Numa conferência de imprensa nesta quinta-feira, o presidente executivo da Toshiba, Masashi Muromachi, disse aos jornalistas que a maquilhagem nas contas que inflacionou os lucros em cerca de 1,125 mil milhões de euros obriga a empresa a “tomar medidas urgentes”.

“Os últimos problemas de contabilidade podem ter sido conduzidos pelo facto de alguns dos nossos negócios terem perdido capacidade de gerar lucro”, justifica Muromachi, citado pela Reuters.

A tomada de medidas urgentes pode significar despedir trabalhadores em áreas que registaram “fraco desempenho”, tais como na construção de computadores e televisões e procurar parcerias para o sector da energia nuclear, admitiu o responsável.

O presidente executivo acrescentou ainda que o “ambiente para o negócio na energia nuclear no Japão é difícil” e que a empresa terá que resolver “várias questões” relacionadas com a revisão da regulação relativa à energia nuclear nos Estados Unidos (onde os japoneses têm participações em empresas da área).

A Toshiba fez investimentos significativos neste sector em meados da década de 2000. No entanto, a Reuters refere que, com o desastre de Fukushima e com o advento do gás de xisto no mercado norte-americano, a indústria perdeu atractividade.

O presidente executivo da companhia nipónica diz que a restruturação pode afectar temporariamente a base de capital, já fragilizada, menciona a Reuters, uma vez que a Toshiba tem dificuldades em obter fundos através da emissão de obrigações ou venda de acções.

Masashi Muromachi falou em conferência de imprensa no dia a seguir a dois acontecimentos relevantes na empresa, que se continua a bater para enfrentar as ondas de choque causadas pela manipulação da contabilidade.

Uma linha de financiamento que chega aos 2,98 mil milhões de euros foi anunciada na quarta-feira através de um comunicado publicado no site da Toshiba e tem o objectivo de garantir a liquidez da companhia. A empresa tinha já contraído um empréstimo no valor de 2,7 mil milhões de euros.

Também na quarta-feira, a Toshiba viu aprovada pelos accionistas a renovação de alguns dos quadros de gestores. Apesar de, de acordo com a Bloomberg, a empresa nipónica ter identificado mais 30 executivos envolvidos na maquilhagem das contas, estes vão manter-se na companhia sob alçada disciplinar.

É neste contexto que Masashi Muromachi, recentemente empossado como presidente executivo depois de exercer funções como presidente do conselho de administração da Toshiba, anunciou que está a prazo no cargo. “É difícil de imaginar que me manteria nesta posição por três anos ou mais”, afirmou, citado pelo Wall Street Journal (WSJ).

No final de Julho, a direcção liderada por Hisao Tanaka demitiu-se na sequência do escândalo de manipulação de contas, sendo que Muromashi assumiu então a presidência interina da Toshiba, para depois receber o voto de confiança do conselho de administração.

Segundo o WSJ, Muromashi não afastou a hipótese de o seu sucessor vir de fora da Toshiba, o que não é comum na cultura empresarial japonesa.