Afinal, havia outro desktop

Regressei a casa depois de um mês a laurear a pevide. E é ainda a desfrutar da descontracção que só o possuidor de uma pevide laureada de ambos os lados consegue alcançar que sou violentamente trazido à dura realidade do quotidiano doméstico. Sim, voltei a casa para descobrir que o meu computador está amuado comigo.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Regressei a casa depois de um mês a laurear a pevide. E é ainda a desfrutar da descontracção que só o possuidor de uma pevide laureada de ambos os lados consegue alcançar que sou violentamente trazido à dura realidade do quotidiano doméstico. Sim, voltei a casa para descobrir que o meu computador está amuado comigo.

Não é um amuo qualquer, daqueles cuja lentidão e maus modos fazem confundir com ressaca de vinho verde. Não, trata-se de agastamento épico, de uma burra bem amarrada, irredutível a negar hipótese de pulseira electrónica. Descobri mal o liguei. Demorou imenso tempo a acender o ecrã (não cronometrei, mas devem ter sido quase 40 segundos. Não parece muito, mas convertendo para timings dos anos 90 é o equivalente a três meses a acender o ecrã, mais três meses para se ver com nitidez). Deu para ver que estava amofinado.

Depois, apareceu uma mensagem que dizia “aguarde enquanto instalamos 247 actualizações”, acompanhado com uma barra que cresceu normalmente até aos 99% e que depois claudicou de forma exasperante no último ponto percentual. Uma embirração óbvia.

Passado uma hora, durante a qual a minha pevide, ainda há momentos laureada, feneceu consideravelmente, lá apareceu o ambiente de trabalho. Aliás, o mau ambiente de trabalho. Causado pelo cursor, que se movia parvamente, ora muito rápido, ora muito lento, ziguezagueando por cima dos ícones mas sem conseguir pousar em nenhum, como uma cegonha ébria a falhar a aproximação ao ninho. A coordenação rato-cursor era inexistente. Não via tanta falta de autoridade num roedor desde o episódio do Tom & Jerry em que o Jerry é visitado por um sobrinho particularmente desobediente e travesso, mas que ainda assim leva a melhor sobre o azarado gato.

Foi aqui que percebi que o meu computador sabia o que andei a fazer no Verão.

Não sei como, descobriu que redigi várias crónicas num tablet. E também que usei o iPhone para googlar informações sobre restaurantes que não obrigam a jantar às 7h30 da tarde ou às 10h30 da madrugada. Julgo mesmo que tenha sabido que, devido à falta de rede no meio da serra do Açor, recorri aos serviços de um cibercafé. Está bem que foram só cinco minutos, consultar a caixa de mails e sair, nem sequer respondi a nenhum e usei sempre um lenço de papel sobre o rato — nunca se sabe quem é que esteve ali antes —, mas o meu computador marimba-se para esses cuidados. Ele sabe que foi traído e faz questão de mo dizer. E de me fazer pagar.

Já lhe pedi desculpas (fazendo um upgrade no antivírus: está mais limpinho do que o dossier “Recibos da Segurança Social” do Passos Coelho), tenho respondido a vários daqueles inquéritos de satisfação que o fabricante envia e que deixo sempre pendurados, acabei com o WiFi cá em casa e só acedo à Net através dele, mas não há maneira de recuperar o que tínhamos. Ele está completamente diferente do que era antes do Verão: lento, errático, maçador. Como se tivesse passado a ser treinado pelo Rui Vitória.

Não sei o que fazer. Já pensei em comprar outro computador, mas para isso tenho de utilizá-lo para pesquisar online. Era coisa para este Sony Vaio rancoroso, por sua alta recreação (que, neste caso, seria mesmo auto-recreação), aceder ao OLX, encomendar um coelhinho branco para oferecer à minha filha e, posteriormente, pô-lo na panela.