Uber acusada nos EUA de não detectar motoristas com cadastro

Empresa admite que sistema de triagem não é 100% infalível, mas garante que os seus clientes estão seguros. Em Portugal, os motoristas são obrigados a apresentar registo criminal antes de começarem a trabalhar.

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Sergio Perez/Reuters

Apesar de, na maioria dos casos apontados em alguns países onde a Uber opera, nunca ter havido dados tão concretos como os agora apresentados pelo ministério público de São Francisco e de Los Angeles, nos EUA, sobre a aceitação de pessoas pela empresa, condenadas por homicídio, ofensas sexuais ou roubo.

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Apesar de, na maioria dos casos apontados em alguns países onde a Uber opera, nunca ter havido dados tão concretos como os agora apresentados pelo ministério público de São Francisco e de Los Angeles, nos EUA, sobre a aceitação de pessoas pela empresa, condenadas por homicídio, ofensas sexuais ou roubo.

A Uber assegura, desde as primeiras acusações, que a triagem feita aos candidatos a motoristas é criteriosa e minuciosa, mas, segundo dados avançados agora, a empresa terá falhado quando escolheu 25 motoristas com cadastro, para trabalharem em São Francisco e Los Angeles.

Entre as pessoas com cadastro escolhidas está um homem que foi condenado a 26 anos de prisão por homicídio em 1982, antes de ter tido liberdade condicional em 2008. Quando se candidatou a um lugar como motorista, usou um nome diferente do que surgiria se o seu passado criminal fosse pesquisado.

Num outro caso, um motorista tinha cumprido pena por exploração sexual de menores em 2005, e um outro por rapto, com recurso a arma de fogo, em 1994.

As acusações foram feitas no âmbito de um processo judicial iniciado em Dezembro, no qual a Uber é criticada por ter dado a entender aos seus clientes que a forma como escolhe os seus parceiros é segura, um facto que o procurador de São Francisco, George Gascón, diz ser “falso” e “enganador”. Citado pelo New York Times, Gascón considera que o método usado pela Uber para a escolha dos motoristas é mais falível que o Live Scan, usado pelas empresas de táxis profissionais. A Uber não é obrigada a usar este sistema, mas deve informar correctamente os seus clientes sobre a forma como trabalha.

Segundo números do procurador de São Francisco, perto de 30 mil pessoas com cadastro por ofensas sexuais na Califórnia não aparecem no registo público que a Uber usa, para averiguar o passado criminal dos motoristas. Além disso, a Uber apenas recua até sete anos para averiguar esse passado. “Se, por exemplo, alguém foi condenado por rapto há oito anos, e foi libertado na semana passada, o processo de averiguação da Uber não vai identificar a pessoas como um condenado por rapto”, exemplificou o procurador Gascón.

Num comunicado avançado pelo New York Times, a Uber nega que o seu sistema seja inferior ao Live Scan. “A realidade é que nenhum é 100% infalível – como descobrimos no ano passado, quando submetemos centenas de pessoas, que se identificavam como motoristas de táxi, a confirmação”. Segundo a empresa, esse processo revelou, como resultado da pesquisa, casos de pessoas condenadas por violação, tentativa de homicídio, abuso de crianças e violência.

A Uber comenta ainda a questão de averiguar apenas o passado dos candidatos nos últimos sete anos. “Sabemos que existem pontos de vista firmes sobre a reabilitação de criminosos. Mas a legislatura do estado da Califórnia decidiu – após um debate saudável – que sete anos estabelecem o equilíbrio certo entre proteger o público, e dar aos ex-criminosos a oportunidade de trabalhar e de se reabilitar”, argumentou a empresa que gere a aplicação móvel.

Um responsável da Uber disse ao PÚBLICO que “em Portugal nenhum motorista opera na plataforma Uber sem antes apresentar um registo criminal limpo”.