Cartas à directora

"Manual eleitoral" para eleitores distraídos

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"Manual eleitoral" para eleitores distraídos

Às vezes apetece a um cidadão que se considera medianamente informado fazer uma espécie de manual para aqueles que, tendo obrigação de escolher o sentido do voto em consciência e em conformidade com o seu desejo último, ficam de tal maneira manipulados e baralhados que acabam por votar em quem não querem. Tem acontecido este fenómeno em muitas eleições passadas, com o consequente arrependimento posterior, do voto dado a quem provou não o merecer. Nesse mini manual eu aconselharia ao eleitorado que se identifica com as politicas dos últimos anos, a votar na coligação que nos tem governado e não cair em populismos de direita, tantas vezes disfarçados com a luta contra a corrupção e encabeçados por homens palavrosos e de grandes dotes oratórios mas que nos têm dado, no passado recente, poucas provas cívicas e democráticas. Para os que não concordam com o rumo que o país tem levado nos últimos anos, e que portanto se dizem de esquerda ou centro-esquerda, as opções são muito mais variadas. Se querem uma política parecida com a atual, apenas com mais preocupações sociais, cujos protagonistas são figuras já bastante conhecidas de todos e que no passado também não deram muita boa conta do recado, então votem no PS. Geralmente o que orienta este eleitorado é aquela ideia fantasiosa de que o principal objetivo eleitoral é tirar a maioria — seja ela absoluta ou relativa à coligação de direita, esquecendo que há outras maneiras de a tirar sem ser apenas através do PS. Esquecem estes eleitores que o PS pode até não ter a maioria relativa dos votos e formar governo na mesma como se a tivesse. É, aliás, neste ponto que muito eleitorado se equivoca, pois pensa que se o PS tiver mais votos que a coligação pode facilmente formar governo. Enganam-se redondamente. O PS precisará de aliados e só pode encontrá-los ou à direita ou à esquerda, tudo dependendo da correlação de forças pós-eleitoral. Se à sua esquerda não houver um grupo parlamentar significativo que ache que é tempo de avançar e "meter a mão na massa" e infletir as politicas mais para a esquerda e governar com os socialistas, então terão, forçosamente, que se aliar ao PSD ou ao CDS porque em termos europeus é necessário, e até imposto, haver estabilidade governativa para sermos "credíveis e fiáveis".

Nesta ordem de ideias quem quiser o bloco central a governar deve também votar no PS. Temos assim que, entre concentrar os votos da esquerda no PS, para este ter mais uns milhares de votos do que a coligação de direita, ficando, paradoxalmente, prisioneiro desta, ou distribuir os votos pelo PS e outras forças que se queiram com ele entender, impossibilitando o tal bloco central, a resposta está na consciência política de cada cidadão. Por outro lado se o eleitorado preferir fortalecer o voto de protesto, sem atender a quem irá formar governo por "serem todos iguais" então terão muito por onde escolher, a começar, como é evidente, pelos extremos políticos. Este manual serve, na minha opinião, para que os cidadãos pensem bem no que vão fazer e escolham tendo todos os dados disponíveis na mão; porque doutra forma vão continuar, mais uma vez, a arrepender-se poucos meses após o ato eleitoral.

José Carlos Palha, Gaia