Morreu Jorge Gonçalves, o “bigodes” das “unhas”

Jorge Gonçalves foi encontrado morto na terça-feira em Luanda por enforcamento, segundo revelou a polícia angolana.

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Jorge Gonçalves António Cotrim/Lusa

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Jorge Manuel Alegre Gonçalves foi encontrado sem vida na última madrugada no quarto de um resort em cabo Ledo, a cerca de 120 quilómetros de Luanda, Angola. O empresário enforcou-se no seu quarto, tendo sido encontrado por um funcionário do hotel onde estava alojado desde o dia 9 deste mês. As autoridades estão a investigar o caso.

Nascido em Angola, Gonçalves fez fortuna como despachante alfandegário, tendo sido, igualmente, campeão português de vela, mas foi durante o seu curto mandato como presidente do Sporting que se tornou famoso. E infame.

Em 1987, Rijkaard já era um nome forte do futebol europeu, médio de enorme talento do Ajax e da selecção holandesa. Jorge Gonçalves tinha uma autorização da direcção do Sporting, liderada por Amado de Freitas, para negociar o holandês com o Ajax. Os “leões” não tinham condições para comprar o jogador e Gonçalves recorreu a uma instituição de crédito para financiar o negócio. Rijkaard foi apresentado e ainda cumpriu uns treinos, mas nunca jogou. O Sporting não conseguiu inscrever o jogador, emprestou-o ao Saragoça, de onde saiu para o AC Milan, juntando-se aos seus compatriotas Gullit e Van Basten.

Gonçalves seria eleito como presidente do Sporting a 24 de Junho de 1988, derrotando por larga margem os outros candidatos. Foi às custas das “unhas” que prometera para o “leão”. Rijkaard não ficou, mas foram chegando, entre outros, o sueco Eskilsson, o uruguaio Rodolfo Rodríguez, o ex-benfiquista Carlos Manuel, e os brasileiros Silas, Douglas e Ricardo Rocha. Também da América do Sul veio o treinador, o uruguaio Pedro Rocha, que sairia à 24.ª jornada. Vítor Damas foi o interino na transição para Manuel José. Os resultados foram medíocres: quarto lugar no campeonato, eliminação nas meias-finais da Taça de Portugal e na segunda eliminatória da Taça UEFA.

Um ano depois, o clube entra em novo processo eleitoral, devido a várias demissões na direcção, e Jorge Gonçalves é copiosamente derrotado por Sousa Cintra. Pouco tempo depois, acabou detido pela Polícia Judiciária, mas nunca chegou a julgamento. Quando foi libertado, Gonçalves fugiu para Angola, onde também chegou a ser detido por dívidas fiscais.

O ex-presidente sempre refutou as acusações de ter deixado o Sporting ingovernável e dizia mesmo que era o clube quem lhe devia dinheiro, referente à venda de Rijkaard para o Milan, apontando alguns dos seus sucessores, principalmente Sousa Cintra e José Roquette, como os principais responsáveis pelo descalabro financeiro do clube.

Com o passar dos anos, voltou a ser presença regular em Alvalade e era voz frequentemente ouvida sobre os assuntos do clube. Andava em Alvalade de cabeça “bem erguida”, como dizia numa entrevista ao jornal A Bola. E nunca perdeu o bigode.