Uma flecha, um tiro e 50 mil euros mataram o leão Cecil

Dentista norte-americano terá pago licença para abater o animal no Zimbabwe. Duas outras pessoas vão esta quarta-feira a tribunal.

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Quase um mês depois de Cecil ter sido encontrado sem cabeça e sem a pele, o diário britânico The Telegraph identificou Walter James Palmer, um dentista do Minnesota, nos Estados Unidos, como o primeiro a acertar no animal. Palmer é um caçador desportivo e aparece em fotos junto a grandes mamíferos abatidos — entre eles um leopardo, um rinoceronte e um alce. 

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Quase um mês depois de Cecil ter sido encontrado sem cabeça e sem a pele, o diário britânico The Telegraph identificou Walter James Palmer, um dentista do Minnesota, nos Estados Unidos, como o primeiro a acertar no animal. Palmer é um caçador desportivo e aparece em fotos junto a grandes mamíferos abatidos — entre eles um leopardo, um rinoceronte e um alce. 

Segundo o The Telegraph, duas testemunhas e um porta-voz não identificado de Palmer confirmam que o dentista estava na posse de uma licença oficial para caçar um leão, com arco e flecha. Mas o animal vitimado era Cecil, o leão mais conhecido do Parque Natural de Hwange. Tinha uma coleira com equipamento GPS, para ser seguido por cientistas.

Alegadamente, o leão terá sido atraído para fora do parque com um isco. Uma vez ferido, ainda vagueou por mais de um dia até ser finalmente morto a tiro, dia 1 de Julho, por um caçador profissional, Theo Bronchorst, da empresa Bushmen Safaris.

Bronchorst e o dono da propriedade onde o leão foi finalmente abatido, a Honest Trymore Ndlovu, vão ser ouvidos esta quarta-feira num tribunal no Zimbabwe, acusados de caça ilegal. Segundo um comunicado conjunto da Autoridade para a Gestão de Parques e da Natureza e da Associação de Operadores de Safaris do país, a licença de caça da herdade não previa o abate de nenhum leão.

A caça a leões e outros grandes mamíferos é legal nalguns países africanos. O alto preço pago por um troféu de caça como este normalmente serve para financiar esforços de conservação das próprias espécies. Mas o impacto da actividade ainda é mal conhecido e tem vindo a preocupar cientistas e conservacionistas. Um estudo publicado em 2011 sugere que a caça anual de um leão por cada dois mil quilómetros quadrados de área é sustentável.

Os leões (Panthera leo) são considerados como uma espécie “vulnerável” em África, segundo a Lista Vermelha de espécies ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza. Mas a sua situação varia conforme o país. Haverá menos de 40.000 animais em todo o continente e a população está, genericamente, a crescer em zonas controladas mas a diminuir em áreas sem qualquer estatuto ou mecanismo de protecção.

Cecil era “um dos animais mais belos de se admirar”, segundo Johnny Rodrigues, da Zimbabwe Conservation Task Force, uma organização criada em 2001 para patrulhar a caça ilegal nos parques naturais do país. “Ele nunca fez mal a ninguém”, disse Rodrigues, citado pela BBC.

Cecil e outro leão, Jericho, lideravam um grupo com várias fêmeas e filhotes no parque de Hwange. Com a morte de Cecil, os seus próprios filhotes possivelmente serão mortos por outros leões que ocupem o mesmo território.