Valongo quer fornadas de turistas atraídos pelos biscoitos e a regueifa

A tradição das padarias e biscoitarias em Valongo passou a estar integrada numa rota histórica promovida pela câmara municipal.

Fotogaleria

Em pleno centro da cidade, o cheiro a biscoitos e o calor dos fornos a lenha são transversais a diversas ruas. A Biscoitaria Valonguense é um desses exemplos. Na Rua Dr. Cândido, a proprietária Maria Guimarães e as duas funcionárias, Aurora e Ana, dão conta de uma tradição que tem no trabalho manual uma das suas maiores virtudes. Os métodos industrializados dificilmente entrarão na biscoitaria, até porque a “magia” passa pela confecção artesanal dos produtos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Em pleno centro da cidade, o cheiro a biscoitos e o calor dos fornos a lenha são transversais a diversas ruas. A Biscoitaria Valonguense é um desses exemplos. Na Rua Dr. Cândido, a proprietária Maria Guimarães e as duas funcionárias, Aurora e Ana, dão conta de uma tradição que tem no trabalho manual uma das suas maiores virtudes. Os métodos industrializados dificilmente entrarão na biscoitaria, até porque a “magia” passa pela confecção artesanal dos produtos.

A família Pereira Gonçalves foi a primeira proprietária da Biscoitaria Valonguense, mas desde há três anos que Maria Guimarães e o marido assumiram a gerência do estabelecimento. “Achamos que era um projecto que deveria ser mantido”, esclarece a actual proprietária. De facto, uma das preocupações do casal sempre foi manter as características originais da biscoitaria. Desde os fidalgos até aos patuscos, as 30 variedades de biscoitos fabricados são produzidos manualmente e cozidos a forno de lenha.

A fábrica pequena e artesanal, quando comparada a um espaço industrializado e de maiores dimensões, nunca impediu a Biscoitaria Valonguense de chegar a todo o país. O sistema de distribuição com determinadas entidades, como mercearias gourmet ou minimercados, revela-se crucial para alargar a área de influência e venda. A Internet dinamizou o negócio, assim como as iniciativas e os eventos promovidos em parceria com a autarquia. “A rota histórica é uma forma de divulgação, para as pessoas conhecerem e verem como funciona. É como ver o passado no presente”, comenta Maria Guimarães.

A diversidade dos negócios na cidade não é encarada como uma dificuldade à subsistência da biscoitaria, mas antes como uma mais-valia. “Por muito que as receitas sejam iguais, a confecção difere. Não encaramos como concorrência porque todos temos o intuito de trabalharmos para o mesmo: promover o que temos de bom.”, afirma.

Valongo é inimaginável sem as suas padarias e as biscoitarias. A tradição nunca saiu da cidade. De geração em geração, os negócios foram passando e sobrevivendo mesmo com as restrições económicas. “O bairrismo ajuda muito nestas situações”, conclui a proprietária da Biscoitaria Valonguense.

140 anos de Paupério
Os 140 anos da Fábrica Paupério celebrados o ano passado acrescentam importância a um estabelecimento desde sempre associado a Valongo. Os biscoitos regionais são o emblema desta fábrica e a garantia de que a História continua a ser construída depois de tantos anos.

A Paupério começou como padaria, numa altura em que Valongo era o principal fornecedor de pão à cidade do Porto. O número elevado deste tipo de estabelecimentos era justificado pela necessidade de assegurar a procura mas quando a Invicta começou a apostar no negócio, os valonguenses sentiram a mudança. “A fábrica Paupério reconverteu-se para o fabrico dos biscoitos”, refere Eduardo Sousa, trineto de um dos fundadores da empresa e actual proprietário.

A necessidade de o estabelecimento se industrializar e se expandir, tal como muitas das biscoitarias da cidade, foi motivada pela procura. “Como a Paupério começou a comercializar além-fronteiras, teve de crescer e aumentar o volume de produção”, explica. O proprietário tem noção de que nem todos os produtos regionais podem ser automatizados pois perde-se a qualidade. China, Timor e Angola são alguns dos países a saborear os biscoitos portugueses.

A “Rota Histórica das Padarias e Biscoitarias de Valongo” é a ponte entre o passado e o presente. O público mais velho que conheceu a Paupério quando ainda era uma padaria, pode agora recordar os velhos tempos. Quanto aos “forasteiros” que a visitam pela primeira vez, são potenciais consumidores. Eduardo Sousa reconhece que a iniciativa torna a fábrica um ponto de interesse, a par de outros núcleos da região.

A deslocalização da fábrica do centro para a periferia foi uma ideia ponderada. No entanto, a possibilidade de “descaracterizarem o local” constituiria uma perda para a Paupério. Os antepassados de Eduardo Sousa mantiveram o negócio na Rua de Sousa Paupério, logo mudar de malas e bagagens para outra “casa” seria arriscado.

A Padaria Irmãos Moreira é mais um local onde a tradição e a família andam de mãos dadas. Manuel Veríssimo e o irmão assumiram o comando do negócio em 2000, e hoje é recorrente o movimento de clientes na padaria para a compra de pão, tostas ou regueifa. Desde a venda directa até às encomendas para restaurantes, a área de influência do negócio não se restringe a Valongo, vai até às freguesias vizinhas de Gondomar.

Tanto Manuel Veríssimo como Bruno Sousa, funcionário há 14 anos na padaria, reconhecem que a concorrência conta, mas atribuem o prejuízo às grandes superfícies e não aos pequenos estabelecimentos na cidade. “Há 20 anos atrás, o negócio estava melhor mas hoje o preço é o que pesa mais face à qualidade.”, defende o proprietário.

O forno a lenha e o predomínio do trabalho manual são dois factores que caracterizam a Padaria Irmãos Moreira e que contribuem para o aumento do preço e da qualidade dos produtos. Para Manuel Veríssimo, a rota histórica constitui um apoio e a sua padaria dificilmente estaria noutro local que não em Valongo.

“A terra dos biscoitos e da regueifa” tem a tradição entranhada nas ruas e nos percursos de Valongo. O negócio é alimentado pela comunidade e pelos proprietários que pretendem não deixar morrer o que é seu, desde sempre.

Texto editado por Ana Fernandes