Ciclovia da Avenida da Boavista é perigosa e vai ser corrigida, mas não para já

Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta alerta para a proximidade dos lugares de estacionamento, a estreiteza da via e cruzamentos difíceis com automóveis

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Melhorias nas zonas periféricas são essenciais para satisfazer as necessidades das populações mais afastadas PÚBLICO/Arquivo

“Como está, [a ciclovia] não está bem. Aquilo é perigoso”, diz ao PÚBLICO Ricardo Cruz, do núcleo portuense da MUBI. Os problemas, garante, são vários, mas o mais evidente, para quem passa na avenida ou olha para as fotografias incluídas no comunicado, é o facto de a ciclovia estar colada aos lugares de estacionamento, sem um espaço de segurança, para que os ciclistas possam circular sem receio de serem abalroados pela abertura das portas dos carros parados. “O contexto cultural é muito importante e não há o hábito de parar e olhar, de pensar que pode ir a passar uma bicicleta”, garante o dirigente associativo.

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“Como está, [a ciclovia] não está bem. Aquilo é perigoso”, diz ao PÚBLICO Ricardo Cruz, do núcleo portuense da MUBI. Os problemas, garante, são vários, mas o mais evidente, para quem passa na avenida ou olha para as fotografias incluídas no comunicado, é o facto de a ciclovia estar colada aos lugares de estacionamento, sem um espaço de segurança, para que os ciclistas possam circular sem receio de serem abalroados pela abertura das portas dos carros parados. “O contexto cultural é muito importante e não há o hábito de parar e olhar, de pensar que pode ir a passar uma bicicleta”, garante o dirigente associativo.

No comunicado, os responsáveis da MUBI explicam que tiveram várias reuniões com a vereadora da Mobilidade, Cristina Pimentel, e também com os responsáveis pelo Ambiente e Urbanismo, Filipe Araújo e Correia Fernandes, nas quais foram apresentadas as razões pelas quais consideram que as soluções desenhadas na Avenida da Boavista são “extremamente perigosas, estando perfeitamente catalogadas nos manuais técnicos da especialidade como tal, e já foram abandonadas há muito pelas boas práticas europeias”.

Além da colagem aos lugares de estacionamento, Ricardo Cruz aponta outros problemas. A faixa destinada aos ciclistas é “muito estreita”, diz, não atingindo o 1,5 metros mínimos definidos pelo Plano Director Municipal. O comunicado da MUBI diz que a ciclovia tem “130 cm ou 110 cm, consoante o local onde se meça” o que a torna “desconfortável e perigosa”.  E, a juntar a isto, há ainda os perigos causados pelo que os ciclistas chamam de “ganchos à direita”, ou seja, o momento em que os automóveis viram nesse sentido, passando por cima da ciclovia. “Intersecções como estas têm de ser muito bem pensadas, eventualmente recorrendo-se a semáforos próprios para as bicicletas, porque muitas vezes os condutores nem se apercebem que vai a passar um ciclista nem conseguem calcular a velocidade a que eles vão”, refere Ricardo Cruz. "O que se passa na Boavista é um mau exemplo, porque cria uma ilusão de segurança que, de facto, não existe", diz.

O dirigente da MUBI diz que a associação ficou preocupada com a empreitada que iria ocorrer na Avenida da Boavista assim que a proposta da autarquia foi divulgada na então revista do município, a Porto Sempre, quando Rui Rio ainda era presidente de câmara. Na altura, refere, a câmara foi contactada por carta, com a MUBI a expor logo os seus receios. “Recebemos uma resposta, alguns meses depois, com a câmara a tentar desculpar-se, dizendo que aquela solução fazia sentido”, garante.

No início de 2014, já com o novo executivo em funções, a MUBI foi chamada para a primeira de várias reuniões e Ricardo Cruz diz-se convicto que a câmara “vai ter abertura para fazer alterações”. O comunicado da MUBI é, por isso, sobretudo um “alerta” e uma tentativa de não deixar o assunto cair no esquecimento, explica.

Ao PÚBLICO, a assessoria de imprensa da Câmara do Porto reconhece a existência de problemas, mas garante que os mesmos só deverão ser solucionados depois de estarem cumpridos “os compromissos contratuais assumidos”. Por escrito, a mesma fonte relembra que a empreitada de requalificação da artéria foi herdada pelo actual executivo, que assumiu o projecto do executivo de Rui Rio. “Toda e qualquer alteração ao projecto tem repercussões contratuais que temos que ter em devida conta”, esclarece.

Por isso, a câmara só deverá efectuar correcções “assim que a empreitada terminar e estiver a mesma totalmente recepcionada pelo município”. Contudo, a mesma fonte nega que a câmara esteja a persistir nos erros apontados pela MUBI, indicando que a ciclovia “não está sequer concluída nem totalmente materializada, exceptuando o troço inicial entre a Rotunda da Boavista e a Rua de Agramonte” e que, nas fases que ainda não estão concluídas ou em que as obras não foram entregues ao município “foi suspensa a pintura do ‘slurry’ [tapete da ciclovia] e as marcações de ciclovia que estavam em projecto para que internamente se reveja o assunto e se implemente uma nova solução”.