Cartas à directora
O Governo e os mais desfavorecidos
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O Governo e os mais desfavorecidos
Não é 1 de Abril. Esfreguei os olhos e voltei a ler. Está na 1ª página do PÚBLICO de 5 de Maio de 2015: "Idosos vão pagar mais para viver em lares da rede solidária."
Regulamento foi alterado a pensar na sustentabilidade das instituições de solidariedade. O antigo datava de 1997 e estava “ultrapassado”. Quanto maior a dependência do idoso, maior é a comparticipação. Talvez seja justo, por as pensões terem “aumentado” devido ao “argumento” desde sempre invocado de ter aumentado a esperança média de vida. E ser como que uma espécie de “taxa moderadora” para não insistirem em viver tanto tempo... E também por ter sido “reforçado e alargado” o complemento de solidariedade para idosos...
Além de que, como são “teimosos” por “não quererem ser autónomos”, é também “justo” que, quanto maior for a dependência, mais tenham de pagar. Eles e os filhos a salário mínimo. Se não saem da cama,é porque “não querem”.
Os idosos e idosas agradecem reconhecidos os “desvelos” deste Governo e, em especial, do ministro da Solidariedade, paladino dos “mais desfavorecidos”.
António José de Matos Nunes da Silva, Oeiras
O bónus
A D. Maria da Neves e o senhor Augusto — com o mesmo apelido — partilharam nos últimos quatro anos, em modo forçado, metade dos seus rendimentos de reforma para apoiar os filhos em dificuldade.
O Zé António Balbino e a esposa que Balbina é entregaram a casa ao banco por incumprimento de crédito. Foram eles e os catraios para casa dos pais, casal aposentado.
O Zézinho Papaléguas e a namorada — que ainda não partilham apelido —, doutorados e pós-doutorados, fizeram-se à descoberta de novas cartografias.
O senhor doutor Abel Rato — divorciado antes das intempéries — deu-lhe um esgotamento de doentes em demasia no centro de saúde e abalou para o conforto de uma instituição de saúde privada.
Ao Manuel Honório — de relações dúbias, e portanto sem partilha de apelidos com mais ninguém —, professor de Matemáticas no ensino público, fizeram-no excedentário e anda agora a arrastar a asa pelos botequins.
O Amílcar e a Joaquina — colegas de viatura nas rondas da PSP da esquadra em que servem — estão a pagar, os dois juntos e apesar de géneros e tamanhos diferentes, a mesma farda e os apetrechos, para cumprirem com zelo a missão nobre que lhe cabe em profissão.
O que é que toda esta gente maravilhosa tem em comum?
O facto de a senhora ministra das Finanças não os considerar elegíveis para receberem um bónus pelo esforço, abnegação e profissionalismo no contributo para a arrecadação de receitas e também não terem tido a sorte de serem funcionários do Ministério das Finanças.
E o que é que eles ainda têm mais em comum?
O facto de estarem a assistir impávidos e vegetativos a um acto de corrupção activa.
E o que é que nenhum deles tem em comum?
Não serem cidadãos empreendedores e bons profissionais, exemplos dos exemplos, como aquele amigo de Aguiar da Beira, que, na adversidade de ver as poupanças perdidas num banco de duvidosa proveniência, conseguiu, com esforço, ousadia e persistência, reconstruir uma vida do nada, lá fora, no desconhecido da adversidade.
Luís Robalo, Lisboa