E das fezes fez-se ouro
Cientistas dizem que há quantidades comercialmente interessantes de metais valiosos nos esgotos.
Durante oito anos, cientistas dos Serviços Geológicos dos Estados Unidos analisaram amostras de estações de tratamento em cidades, vilas e comunidades rurais das Montanhas Rochosas. E concluíram que, em cada tonelada de lamas havia, em média, 28 gramas de prata, 563 gramas de cobre, 36 gramas de vanádio e algo entre um a seis miligramas de ouro.
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Durante oito anos, cientistas dos Serviços Geológicos dos Estados Unidos analisaram amostras de estações de tratamento em cidades, vilas e comunidades rurais das Montanhas Rochosas. E concluíram que, em cada tonelada de lamas havia, em média, 28 gramas de prata, 563 gramas de cobre, 36 gramas de vanádio e algo entre um a seis miligramas de ouro.
“Estes metais estão em todo o lado, nos produtos para o cabelo, nos detergentes, até em nanopartículas nas nossas meias, para prevenir os maus cheiros”, afirma Kathleen Smith, autora principal do estudo apresentado numa conferência da Sociedade Norte-americana de Química, nos Estados Unidos – citada num comunicado desta organização.
Pequenas quantidades destes metais acabam por chegar às estações de tratamento, onde a parte sólida dos esgotos é separada da líquida. “O outro que encontrámos está ao nível mínimo de um depósito mineral”, acrescenta Kathleen Smith.
Ou seja, com tecnologia apropriada e a um custo razoável, os metais valiosos poderão eventualmente ser reaproveitados. E isto não traria apenas um benefício comercial, como ambiental, pois quanto menor a concentração de metais pesados nas lamas, mais facilmente elas podem ser utilizadas como fertilizantes na agricultura.
A ideia já vem inspirando outros cientistas e até empresas. Técnicas para recuperar metais a partir de águas residuais industriais foram já desenvolvidas pela companhia Magpie Polymers, com sede em França.
E há outros estudos que também procuraram avaliar a potencial riqueza dos esgotos urbanos. Um deles, liderado por cientistas da Universidade Estadual do Arizona e publicado em Janeiro passado na revista Environmental Science and Technology, estima que numa cidade com um milhão de pessoas, as lamas das estações de tratamento podem gerar o equivalente a 12 milhões de euros por ano. Os 13 elementos químicos mais lucrativos que se podem tirar dos esgotos valerão cerca de 260 euros por tonelada de lamas, segundo o estudo.
Em 2009, a Agência de Protecção Ambiental norte-americana também já tinha analisado milhares de amostras, encontrando valores parecidos com o do estudo apresentado esta segunda-feira para alguns metais.
A grande questão é saber se é mesmo possível fazer dinheiro com os esgotos, com uma tecnologia barata e que não traga mais problemas ambientais do que soluções. “A viabilidade económica e técnica da recuperação de metais dos bio-sólidos precisa ser avaliada caso a caso”, diz Kathleen Smith.