CP abate 15 automotoras a diesel esta segunda-feira

Empresa paga cinco milhões de euros por ano para alugar automotoras a Espanha.

Foto
DR

O abate deste material – num total de 45 veículos, porque cada automotora tem três carruagens – foi adjudicado à Reciclagem Sucatas Abrantina, “que procedeu ao pagamento da importância antes do início do trabalho”, informa fonte oficial da CP que, contudo, se escusa a divulgar o valor pelo qual estas automotoras foram vendidas para sucata.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O abate deste material – num total de 45 veículos, porque cada automotora tem três carruagens – foi adjudicado à Reciclagem Sucatas Abrantina, “que procedeu ao pagamento da importância antes do início do trabalho”, informa fonte oficial da CP que, contudo, se escusa a divulgar o valor pelo qual estas automotoras foram vendidas para sucata.

“Face aos elevados custos de reabilitação e ao estado de vandalização em que se encontra, este material constituía apenas uma fonte de custos para a empresa, sem qualquer valorização”, diz a CP. A empresa explica ainda que lançou um concurso público para a venda, com obrigação de desmantelamento, das 15 automotoras, mas também não divulgou quais as empresas consultadas.

As automotoras UTD (Unidades Triplas Diesel) foram construídas a partir de 1979 na fábrica da Sorefame na Amadora e circularam na rede ferroviária portuguesa até 2011. Ao longo destes 32 anos fizeram parte da geografia ferroviária das linhas do Minho, Douro, Oeste e Algarve. A CP diz que atingiram o limite da sua vida útil, “nomeadamente pelo esgotamento total dos motores”, custando a sua reabilitação valores que podiam atingir os quatro milhões de euros por unidade.

No entanto, uma fonte da EMEF (empresa instrumental da CP para a manutenção e reparação de material ferroviário), que pediu o anonimato, garante que as 15 automotoras poderiam ter nova vida por metade desse valor. A EMEF, para mais, está sobredimensionada em termos de recursos humanos, pelo que esse projecto de modernização (que incluía dotar as unidades com novos motores) seria uma forma de rentabilizar aquela que é a maior metalomecânica do país.

Porém, a opção da CP foi a de alugar automotoras à sua congénere espanhola Renfe por cinco milhões de euros ao ano. As 20 unidades espanholas que estão a circular no Minho e no Douro já tinham sido retiradas de serviço no país vizinho e até consomem mais combustível do que as UTD que vão agora ser desmanteladas.

Quando no início da década, as UTD começaram a ser retiradas da circulação, a expectativa era de que a electrificação da rede ferroviária prosseguisse e a CP não precisasse de mais material circulante a diesel. Nesse contexto, o aluguer das “espanholas” revelava-se ajustado, dado o seu carácter transitório. Só que as electrificações não avançaram e o que era provisório tende agora a ser definitivo e com custos acrescidos.