Nós somos os parasitas da Terra

Depois de sugarmos todo o petróleo da terra, derrubarmos todas as florestas e comermos todos os animais da terra e do mar e do ar, depois do ar se tornar irrespirável, o nosso hospedeiro morrerá, e nós com ele. Será este o nosso destino?

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Fadi Al-Assaad/Reuters

Escrito assim, pode parecer uma hipérbole. O pior que nos pode acontecer é que não o seja.

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Escrito assim, pode parecer uma hipérbole. O pior que nos pode acontecer é que não o seja.

"Play".

Lembro-me de ser criança e de ouvir falar da importância da Amazónia. Na escola, a professora referia-se ao pulmão do planeta, uma metáfora recorrente naquela altura. O meu jovem eu olhava para as fotografias do livro e imaginava como seria voar rente às copas das árvores, num mar de verde fotossintético, maior que muitos países, incluindo o nosso. Foi uma imagem que me ficou gravada na memória.

"Fast-forward".

"Play".

Já se passaram mais de duas décadas e a desflorestação de que se falava na altura ainda continua, a um ritmo perigoso, a criar espaço para as pastagens dos nossos presentes e futuros hambúrgueres de um euro. Vista de cima, a acção do ser humano parece-se com uma praga que alastra lenta mas inelutavelmente, ano após ano, década após década — transformando o verde fértil em castanho estéril. Uma tragédia em tempo real, onde nós desempenhamos o papel de parasitas. Sim, nós somos os parasitas da Terra, por muito que nos custe admiti-lo.

Esquecemo-nos como viver em simbiose com o nosso planeta e também nos esquecemos, ou fazemo-nos de esquecidos, de que vivemos num ecossistema fechado, a biosfera. Estamos confinados a esta fina película onde a vida é possível, entre o zero absoluto do espaço e o inferno de magma incandescente que revoluciona debaixo dos nossos pés. Nós, e tudo mais que é vivo — até ver — no Universo.

"Pause".

Existem muitas estatísticas a comprovar que o nosso parasitismo pode também ser o nosso fim, mas são apenas números, muitas vezes difíceis de imaginar, dadas as suas grandezas, e alvos fáceis de refutação pelos seus detratores. A nossa actuação face ao ambiente tem sido quase sempre reactiva e não proactiva, ou seja, remendamos as nossas asneiras pós-facto e não tratamos de as evitar em primeiro lugar. Isto, apesar de todos os avisos e sinais de alarme que temos vindo a assistir, desde a extinção de espécies às mudanças climáticas.

"Play".

Depois de sugarmos todo o petróleo da terra, derrubarmos todas as florestas e comermos todos os animais da terra e do mar e do ar, depois do ar se tornar irrespirável, o nosso hospedeiro morrerá, e nós com ele. Será este o nosso destino?

"Stop".