Em duas semanas, houve mais mil mortes do que era esperado

Depois do frio, chegou a época da gripe e as mortes estão a aumentar. Centros de saúde de Lisboa e Vale do Tejo abrem portas até mais tarde e ao fim-de-semana.

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Urgências nos hospitais diminuíram, mas não o suficiente NUNO FERREIRA SANTOs

“Em duas semanas, o excesso de mortalidade já ultrapassa os mil óbitos em relação ao esperado”, precisou ao PÚBLICO a subdirectora-geral da Saúde, Graça Freitas, notando este fenómeno coincidiu com a diminuição das temperaturas e com início da gripe sazonal.  É, frisa, uma conjugação de “circunstâncias adversas”: além do frio, que este ano chegou numa fase precoce, há doentes cada vez mais idosos e em estado mais grave nos serviços de urgência. A agravar, há duas semanas, começou o período epidémico da gripe sazonal. “A terceira semana vai ser fundamental para se perceber o que vai acontecer, mas por enquanto há uma boa notícia: os vírus em circulação são predominantemente da estirpe B”, que afecta menos as pessoas mais idosas - que são justamente aquelas que mais recorrem às urgências hospitalares, com descompensações de doenças crónicas.

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“Em duas semanas, o excesso de mortalidade já ultrapassa os mil óbitos em relação ao esperado”, precisou ao PÚBLICO a subdirectora-geral da Saúde, Graça Freitas, notando este fenómeno coincidiu com a diminuição das temperaturas e com início da gripe sazonal.  É, frisa, uma conjugação de “circunstâncias adversas”: além do frio, que este ano chegou numa fase precoce, há doentes cada vez mais idosos e em estado mais grave nos serviços de urgência. A agravar, há duas semanas, começou o período epidémico da gripe sazonal. “A terceira semana vai ser fundamental para se perceber o que vai acontecer, mas por enquanto há uma boa notícia: os vírus em circulação são predominantemente da estirpe B”, que afecta menos as pessoas mais idosas - que são justamente aquelas que mais recorrem às urgências hospitalares, com descompensações de doenças crónicas.

O encontro com os jornalistas acontece numa altura em que se continuam a multiplicar as notícias sobre mortes nas urgências por alegada espera excessiva e em que há já quem peça a demissão do ministro da Saúde. É o caso da Plataforma Lisboa em Defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS),  que ontem entregou uma carta no Ministério da Saúde, em que defende que Paulo Macedo é o responsável "pela situação caótica nas urgências e mortes por alegada falta de assistência" e que por isso mesmo se deve demitir.

Admitindo que "não há sistemas perfeitos", o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, assegurou, citado pela Lusa, que as mortes denunciadas na comunicação social (sete casos, desde o Natal) estão a ser avaliadas para se apurar se estão ou não relacionadas com o tempo de atendimento.  A administração do Hospital Garcia de Orta (onde foram relatados dois casos, o último dos quais o de uma mulher de 89 anos que terá esperado nove horas) adiantou que, para já, não detectou nada de anómalo. Mas a última palavra  será da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde, que ainda está a investigar as denúncias.

Leal da Costa defende que é prematuro afirmar que a existência de mais casos tem a ver com o tempo de atendimento. “Os indicadores mostram que o tempo médio este ano até é mais baixo do que em anos anteriores" e "a mortalidade é inferior a 2011/2012 e muitíssimo inferior a 1999, ano de mortalidade excessiva", disse, sublinhando que este Inverno é o mais frio dos últimos 90 anos.

Para o bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Germano Couto, se é verdade que quase todos os anos por esta altura há situações de ruptura nas urgências hospitalares, a situação "tenderá a ser cada vez pior, se nada for feito, porque a população portuguesa está cada vez mais envelhecida e não há uma articulação entre os  ministérios da Saúde e o da Segurança Social para adequar os cuidados à terceira idade”. O que está a acontecer este ano  “é um reflexo da falta de organização no SNS” e da falta de recursos (só enfermeiros “seriam necessários mais 600”), mas por vezes as mortes acontecem porque “os doentes não tiveram os cuidados adequados antes mesmo de chegarem aos hospitais”, diz.  Germano Couto dá o exemplo dos mais de três mil lares de terceira idade legalizados em Portugal que, na sua maior parte, “não têm os devidos cuidados de saúde", com apoio médico e enfermeiros em número suficiente. Lembra ainda que muitos idosos vivem sozinhos e que, por isso, seria necessário investir nos cuidados de saúde primários, promovendo a ida dos profissionais a casa dos mais velhos, para lhes dar conselhos sobre como se proteger do frio.

Com a explicação de que é para “fazer face à época de gripe”, a ARS de Lisboa e Vale do Tejo forneceu entretanto esta segunda-feira a lista de 54 unidades e centros de saúde que se vão alargar horários, alguns à noite, outros ao fim-de-semana, durante seis semanas (até 27 de Fevereiro). A lista das unidades de saúde com horários prolongados na ARS de Lisboa e Vale do Tejo pode ser consultada no Portal da Saúde. Após as primeiras notícias de situações de de ruptura em vários serviços de urgência, no Natal, esta ARS já tinha alargado os horários de alguns centros de saúde, mas só durante três dias.

Para já, apenas Lisboa e Vale do Tejo avança com esta medida. No Norte e no Centro, apesar de já terem sido alargados horários antes em casos pontuais, agora apenas se fará o mesmo se a afluência às urgências hospitalares o justificar. Já no Alentejo e no Algarve, essa necessidade ainda não se fez sentir,  por enquanto. “A gripe é totalmente imprevisível”, admite João Moura Reis, presidente da ARS do Algarve, que nota  que o aumento da procura das urgências hospitalares nesta região não justificou, para já, um reforço dos horários dos centros de saúde. “Mas [se a situação se alterar] temos tudo preparado para dar resposta”, garante.