Responder ao atentado de “Charlie Hebdo”

Este atentado é gravíssimo porque pode colocar toda uma civilização em causa, todos os nossos valores, directos e indirectos

Foto
Stefan Wermuth/Reuters

Estamos em choque. As manifestações públicas foram imediatas, com cada um e cada uma respondendo como sabia e podia. Felizmente, a maioria das respostas ao atentado contra o jornal "Charlie Hebdo" tiveram sentido inverso àquilo que pretendiam os terroristas. Respondeu-se, maioritariamente, com exemplos de tolerância àquele atentado contra a liberdade, essa mesma tolerância que tanto incomoda fanáticos e extremistas. É sem dúvida a melhor resposta!

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Estamos em choque. As manifestações públicas foram imediatas, com cada um e cada uma respondendo como sabia e podia. Felizmente, a maioria das respostas ao atentado contra o jornal "Charlie Hebdo" tiveram sentido inverso àquilo que pretendiam os terroristas. Respondeu-se, maioritariamente, com exemplos de tolerância àquele atentado contra a liberdade, essa mesma tolerância que tanto incomoda fanáticos e extremistas. É sem dúvida a melhor resposta!

Entrar em generalizações de grupo e acusar inocentes é exatamente o tipo de atitude que este tipo de terroristas pretendem fomentar. Os muçulmanos não são todos iguais, só uma minoria se aproxima dos terroristas, tal como os cristãos, apesar de alguns maus exemplos históricos, também não são todos fanáticos. Nem sequer os ateus são desprovidos de moral. São trivialidades que nunca devem ser esquecidas. O ódio e a desconfiança social e religiosa é exactamente o que este tipo de terroristas pretendem incitar para detonar as sociedades livres.

Um dos nossos maiores valores civilizacionais ocidentais é a liberdade e o modo como a conseguimos institucionalizar nas nossas sociedades contemporâneas. Em liberdade podemos ser violentados, mas, pegando no exemplo das vítimas do massacre, e segundo palavras dos próprios: a liberdade vale todos os esforços e sacrifícios, e seria insuportável viver sem ela. Provavelmente poucos de nós teríamos esta coragem, mas quase de certeza que a maioria de nós teria uma vida muito mais infeliz sem liberdade.

O exemplo das vítimas de 7 de Janeiro deve fazer-nos pensar e estar alerta. Eles tinham consciência dos riscos que corriam e não deixaram de concretizar a liberdade de pensamento e imprensa. Estes atentados não se devem, na minha opinião, à perda de valores nas sociedades ocidentais como avançam alguns puristas mais conservadores. Eles acontecem porque existem de facto valores. Isto aconteceu porque defendemos o valor de viver em sociedades livres e que se recusam a censura, o policiamento opressivo e a desconfiança e o medo do outro. Também aqui corremos o risco de perder a liberdade ao tentarmos defende-la de um modo extremista e intolerante.

Também haverá com certeza quem critique o excesso de mediatismo dado a este assunto. Muitas mais pessoas morrem e sofrem pelo mundo fora, em condições sub-humanas. É verdade. Claro que não podem ser esquecidas. Mas o atentado de ontem pode colocar tudo em causa, até essas causas nobres fundamentais. Sem a liberdade de expressão não haveria a possibilidade de ter sequer tais opiniões contraditórias. Sem ela seria também impossível mobilizar a sociedade para responder a toda a miséria que grassa pelo mundo. Este atentado é gravíssimo porque pode colocar toda uma civilização em causa, todos os nossos valores, directos e indirectos.

Espero que este dia fique na memória colectiva, que se recorde e que nunca se perca o norte, que nunca abdiquemos de algo que nos deve orgulhar (nem sequer pela desculpa última radical de a defender): o valor inigualável da liberdade e da tolerância, pois ambas andam fraternamente juntas.