O Serviço Nacional de Saúde é como um jarrão chinês

Só quando o jarrão se desfizer, é que será possível fazer algo de novo.

Só que este jarrão está todo partido, todo aos pedacinhos. No seu interior estão milhares de pequenos adesivos a colar os pedacinhos do jarrão. São os profissionais de saúde. De fora, não se vê, só se observa o jarrão, aparentemente intacto e valioso.

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Só que este jarrão está todo partido, todo aos pedacinhos. No seu interior estão milhares de pequenos adesivos a colar os pedacinhos do jarrão. São os profissionais de saúde. De fora, não se vê, só se observa o jarrão, aparentemente intacto e valioso.

De vez em quando, um dos adesivos fraqueja, ou morre, ou se reforma ou emigra. Os pedacinhos do jarrão que estavam fixos por esse adesivo começam a sair do sítio, aumentando a tensão sobre todos os outros adesivos. Então os adesivos gritam uns aos outros “alguém vá segurar aqueles pedaços! Senão isto cai tudo!”. E os adesivos adjacentes lá se esticam mais um pouco para segurarem os pedacinhos soltos. E já todos os adesivos estão esticados, a segurarem mais pedacinhos do que conseguem. E os adesivos já quase se rompem, e os pedacinhos nem estão bem fixos. Mas, do lado de fora, não se vê, só se observa o jarrão, aparentemente intacto e valioso.

Cada vez há menos adesivos e cada vez mais pedaços do jarrão se vão partindo.

Do lado de dentro do jarrão, todos os adesivos olham uns para os outros e para as paredes fragmentadas. É para eles óbvio que não há solução para a situação. Mais cedo ou mais tarde o jarrão vai desfazer-se. Com estrondo e de forma completa e irreversível. Há tanto tempo que os adesivos são responsáveis por manter o jarrão de pé, que ainda nenhum teve coragem de ser o primeiro a deixar cair pedacinhos. Queixam-se, refilam, fazem avisos sobre o perigo, mas continuam a esticar-se e a segurar mais pedacinhos do que conseguem. E do lado de fora, não se vê, só se observa o jarrão, aparentemente intacto e valioso.

O director da exposição não pensa assim. E mostra o aparentemente bonito jarrão aos outros. E tenta provar o bom estado do jarrão ao conseguir manter o seu bom aspecto usando cada vez menos adesivos.

E os outros concordam e dizem “este jarrão é uma grande conquista! Ai de quem o queira destruir!”. E quando algum dos adesivos tenta dizer que o jarrão vai partir, que não é mais possível segurá-lo, zangam-se com ele.

Mais cedo ou mais tarde, o jarrão vai desfazer-se. Com estrondo e de forma completa e irreversível. Quando isso acontecer, os outros vão achar que a culpa foi dos adesivos, que não seguraram indefinidamente os pedacinhos do jarrão partido, permitindo que todos continuassem a vê-lo aparentemente intacto.

A única solução é a dissolução. Só quando o jarrão se desfizer, é que será possível fazer algo de novo.

Médico