Pressão vendedora atirou direitos da Sonae Indústria para mínimo de 0,0001 euros

Negociaram-se mais de 56,4 milhões de direitos de subscrição de acções do aumento de capital.

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Belmiro de Azevedo garante que vai voltar a estudar, uma preocupação que o acompanhou ao longo da sua carreira. Nélson Garrido

O valor de fecho, que tecnicamente é o mais baixo possível, revela a pressão vendedora dos actuais accionistas que não pretendem acompanhar o aumento de capital de 150 milhões de euros, que vai ser realizado a 0,01 euros por acção.

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O valor de fecho, que tecnicamente é o mais baixo possível, revela a pressão vendedora dos actuais accionistas que não pretendem acompanhar o aumento de capital de 150 milhões de euros, que vai ser realizado a 0,01 euros por acção.

A negociação registou forte liquidez, com cerca 56,4 milhões de direitos negociados, o que, em teoria, permitiria a subscrição de cerca de seis mil milhões de novas acções, num total de 15 mil milhões de novos títulos, se a operação for subscrita na íntegra.

A soma de direitos negociados nas últimas sete sessões totaliza os 56,4 milhões de direitos, praticamente a totalidade dos direitos dispersos em bolsa, mas cada direito pode ser negociado várias vezes, pelo que é impossível determinar que percentagem de novas acções serão subscritas a partir dos direitos transaccionados.

A diferença face ao valor actual das acções, que esta quarta-feira fecharam a 0,032 euros, permitiu operações de arbitragem (venda de acções e compra de direitos), o que contribuiu para a liquidez verificada. Esta quarta-feira, o último dia de negociação, foi o mais líquido, com a negociação de 28,4 milhões de direitos. Foi também a sessão em que se fixou o valor mais baixo de sempre.

A pressão vendedora de direitos é explicada pelo valor a que foi fixado o aumento de capital, que diluiu o valor das actuais acções, e pela quantidade de novas acções a emitir, num total de 15 mil milhões de novos títulos, que obriga a um investimento considerável se o accionista pretender manter a mesma posição. Cada direito garante a subscrição de cerca de 107 novas acções.

Numa simulação simples, um accionista com mil acções, que ao último valor de fecho corresponde a cerca de 31 euros, vai, se exercer os direitos de subscrição respectivo, investir cerca de 1071 euros.

As perspectivas para a evolução do título não são muito optimistas, já que a chegada à negociação, a 4 de Dezembro, das 15 mil milhões de novas acções deverá manter a cotação pressionada em torno de um cêntimo.

Os investidores que já deram ondem de subscrição do aumento de capital já não podem anular essa ordem, mas o prazo de subscrição termina no próximo dia 24, inclusive. Antecipando-se ao calendário estabelecido, o maior accionista da Sonae Indústria, a Efanor,  do empresário Belmiro de Azevedo (maior accionista da Sonae SGPS, que  é dona do PÚBLICO), anunciou a subscrição de acções num montante total de 77 milhões de euros. O montante de capital subscrito supera em cerca de dois milhões de euros o montante que o empresário se tinha comprometido a subscrever e que correspondia à percentagem directa de capital que detém na sociedade.

A operação de aumento de capital pode determinar uma alteração substancial da estrutura accionista da empresa, uma vez que o não acompanhamento da operação por outros accionistas fará subir o controlo de capital por parte da Efanor.

Nas condições da operação, a  Sonae Indústria informa que não celebrou contrato de tomada firme ou de garantia de colocação das novas acções, pelo que, no caso de a oferta não ser totalmente subscrita, o aumento de capital está sujeito ao regime da subscrição incompleta, ficando limitado às subscrições recolhidas.

O aumento de capital destina-se a reduzir o endividamento da empresa e a financiar o plano estratégico em curso.

Já depois do arranque do aumento de capital a empresa anunciou o regresso de Carlos Moreira da Silva à administração da Sonae Indústria, como administrador não executivo. Moreira da Silva liderou durante muitos anos a empresa de painéis de madeira, que está presente em seis países.