Estátua de Carmona nas Caldas sem direito ao espaço público

CDS/PP chegou a propor colocação da estátua no Largo 25 de Abril. Em vez disso, o monumento deve ficar num espaço museológico da cidade.

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O Largo 25 de Abril, nas Caldas, deverá receber um elemento com água, para lembrar a origem termal da cidade Sandra Ribeiro

A principal razão evocada pelo CDS foi a de que aquela obra de arte, inaugurada em 1971 pelo então Presidente Américo Thomaz, numa cerimónia que pretendeu homenagear Carmona por ter assinado, em 1927, a elevação das Caldas da Rainha a cidade, já tinha estado naquele mesmo espaço público.

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A principal razão evocada pelo CDS foi a de que aquela obra de arte, inaugurada em 1971 pelo então Presidente Américo Thomaz, numa cerimónia que pretendeu homenagear Carmona por ter assinado, em 1927, a elevação das Caldas da Rainha a cidade, já tinha estado naquele mesmo espaço público.

Com o 25 de Abril a estátua foi removida e guardada no então Regimento de Infantaria 5 (hoje Escola de Sargentos do Exército) após uma polémica entre centenas de caldenses que defendiam, uns a manutenção da estátua, outros a sua deposição.

Nos anos 1980, a Assembleia Municipal votou a recolocação da estátua de Carmona no seu pedestal que, há anos, estava vazio. Contudo, a deliberação nunca foi cumprida. De resto, o próprio autor – o escultor caldense João Fragoso (1913-2000) – desinteressou-se do assunto, tendo mesmo assumido publicamente que não fazia questão de que a sua obra voltasse para a antiga Praça Marechal Carmona e agora Largo 25 de Abril.

Durante 20 anos Caldas da Rainha esqueceu a estátua, da qual se perdeu até o rasto porque desaparecera entretanto do quartel. Até que em Junho deste ano uma dirigente local do CDS/PP entendeu que as obras de regeneração urbana em curso no Largo 25 de Abril eram um bom pretexto para recolocar a estátua no seu local original – um dos sítios mais nobres da cidade, ladeado pela Câmara Municipal, tribunal e igreja matriz.

Na polémica que se seguiu e que foi debatida em várias sessões da Assembleia Municipal todos estiveram contra. O PS recordou que “a História não volta atrás”, a CDU fez notar que o mesmo homem que assinou o decreto da passagem das Caldas de vila a cidade foi o mesmo que apadrinhou o forte de Peniche como prisão política, e o MVC (um movimento independente local) considerou a proposta infeliz porque o “novo” largo agora em obras merecia um monumento virado para o futuro e não para o passado.

O próprio PSD, pela voz do presidente da Câmara, Tinta Ferreira, reconheceu que “esta intervenção é feita fora de tempo” e desvalorizou o papel de Carmona na elevação das Caldas a cidade, considerando que este se limitou a assinar um papel. Pragmático, o autarca explicou que “o que está candidatado a fundos comunitários para o Largo 25 de Abril não é a estátua do marechal Carmona, mas um elemento de água” que faça alusão à génese termal da cidade.

Duas semanas depois as intervenções aumentaram de tom. A CDU achou uma “provocação reles” a proposta do CDS em ressuscitar um “símbolo do fascismo” e o MVC acusou aquele partido de trazer para a Assembleia Municipal “problemas secundários que o próprio passado já resolveu”.

Sozinho contra todos, o centrista João Diniz ainda se insurgiu contra o “preconceito ideológico que impede a discussão desapaixonada” e argumentou que “após o terminus da II Grande Guerra foi Carmona quem se dispôs a democratizar o país e a devolver-lhe a liberdade perdida”. Também assinalou que Óscar Carmona era laico, republicano e maçon. Sem sucesso.

Só uma proposta conciliadora e salvadora do PSD haveria de lhe salvar a face. A estátua do marechal Carmona não irá para o Largo 25 de Abril, mas deverá sair de uma arrecadação onde jaz esquecida e transportada para um espaço museológico da cidade. Só o PSD e o CDS votaram a favor. PS e CDU votaram contra e o movimento independente absteve-se.

Polémica em Santa Comba e Braga
A polémica em torno do destino a dar à estátua de Carmona, nas Caldas, não é muito diferente da que tem rodeado a intenção da Câmara de Santa Comba Dão de erguer um monumento ao antigo presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar. Num concelho em que se prevê a construção de um museu do Estado Novo, a homenagem ao filho da terra que fundou e liderou o país durante grande parte desse regime divide opiniões, como se percebeu em 2010, aquando da inauguração de um monumento aos mortos da Guerra Colonial no sítio onde, em 1978, uma efígie do ditador fora destruída à bomba.

O mesmo acontece ainda, em Braga, com a estátua erguida no ano passado ao falecido Cónego Melo, o antigo vigário-geral da diocese que, pela sua intervenção no PREC, no campo da extrema-direita, se tornou figura non-grata da esquerda portuguesa. Apesar dos protestos, o monumento mantém-se na rotunda em frente ao cemitério de Monte D’Arcos, numa zona de expansão urbana da cidade.