Nem todos olham para o terceiro lugar como um prémio
Há quem considere, como Louis van Gaal, que o jogo do terceiro e quarto lugares devia acabar. O PÚBLICO ouviu dois portugueses que estiveram nesse jogo com 40 anos de intervalo.
Para algumas selecções, lutar pelo terceiro lugar será, sobretudo, um momento de consagração de uma campanha notável. Olhando, por exemplo, para o jogo do terceiro lugar do Mundial 2002, Turquia e Coreia do Sul nunca tinham chegado tão longe e não voltariam a chegar – os turcos acabariam por vencer esse jogo e os coreanos também fizeram a festa em casa. Já para as selecções que vão estar hoje em Brasília, o jogo pouco acrescentará em termos de currículo. O Brasil já foi cinco vezes campeão, esteve em mais duas finais e vai disputar este jogo pela quarta vez, enquanto a Holanda já esteve em três finais e perdeu na única vez que foi ao jogo de consolação.
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Para algumas selecções, lutar pelo terceiro lugar será, sobretudo, um momento de consagração de uma campanha notável. Olhando, por exemplo, para o jogo do terceiro lugar do Mundial 2002, Turquia e Coreia do Sul nunca tinham chegado tão longe e não voltariam a chegar – os turcos acabariam por vencer esse jogo e os coreanos também fizeram a festa em casa. Já para as selecções que vão estar hoje em Brasília, o jogo pouco acrescentará em termos de currículo. O Brasil já foi cinco vezes campeão, esteve em mais duas finais e vai disputar este jogo pela quarta vez, enquanto a Holanda já esteve em três finais e perdeu na única vez que foi ao jogo de consolação.
Louis van Gaal, que vai cumprir o seu último jogo no banco da selecção holandesa antes de ir para o Manchester United, deixou bem patente o seu desagrado por ainda ter de ficar no Brasil. “Num Mundial, só um prémio é que conta e é o título de campeão. Este jogo nunca devia ser jogado. As equipas não deviam jogar pelo terceiro lugar. Ando a dizer isto há uma década”, considera o técnico holandês, que, ainda assim, não terá um trauma tão grande para superar como a selecção brasileira, estrondosamente derrotada pela Alemanha e com o risco de começar a ouvir assobios ao primeiro passe falhado.
Seja para definir classificações, para manter o público entretido até à final ou para render mais uns milhões com patrocinadores e transmissões televisivas, a verdade é que, pelo menos em golos, este “jogo dos perdedores” rende mais que a final – nos últimos nove torneios, a final tem uma média de 2,4 golos, o jogo do terceiro lugar tem 4,2.
Este jogo é uma tradição dos Mundiais e apenas não se realizou por duas vezes nas 19 edições anteriores. Na primeira edição, em 1930, a FIFA declarou os EUA como terceiro classificado à frente da Jugoslávia através do comportamento das duas selecções na primeira fase, enquanto em 1950 o modelo da competição era diferente e também não houve final – o Brasil-Uruguai do “Maracanaço” não foi uma final, mas sim o último jogo de uma poule para definir o campeão. A Suécia ficaria com o terceiro lugar e a Espanha com o quarto.
O cliente mais habitual deste jogo é a Alemanha. Para além dos três títulos e das quatro finais perdidas, os germânicos já disputaram este jogo por cinco vezes, vencendo quatro e perdendo uma. Várias selecções estiveram duas vezes neste jogo sem nunca terem chegado à final. A Polónia esteve lá duas vezes (1974 e 1982) e venceu as duas. Portugal e Áustria estiveram lá duas vezes e têm uma vitória e uma derrota.
A selecção portuguesa esteve nesse jogo com 40 anos de diferença, em 1966 e 2006. Na primeira ocasião, os “Magriços”, depois de falharem o acesso à final com a futura campeã Inglaterra, jogaram em Wembley, dois dias antes da final, com a União Soviética e venceram por 2-1, golos de Eusébio e José Torres, garantindo a melhor classificação de sempre da selecção portuguesa em Mundiais. António Simões esteve nessa selecção, jogou essa final B e defende a sua utilidade.
“É o terceiro lugar que está em causa. É preciso ultrapassar a dor do jogo anterior e substituí-la por auto-estima e brio. Há algo a conseguir-se nesse jogo. Eu prefiro ficar em terceiro lugar sozinho do que ficar em terceiro com outro”, diz ao PÚBLICO o antigo jogador do Benfica. Nessa selecção de 1966, conta Simões, haveria “um ou outro mais desmotivado”, mas garante que ninguém queria regressar a casa antes de defrontar a URSS. “Não houve discussão quanto a isso e os capitães e treinadores foram importantes. A história de 1966 não terminou no jogo com a Inglaterra, terminou com os soviéticos. Ficámos em terceiro e essa ainda é a melhor classificação portuguesa de sempre.”
Em 2006, Luiz Felipe Scolari estava no banco da selecção portuguesa que teve de jogar, em Estugarda, com a selecção anfitriã do torneio, depois de, dias antes, ter perdido com a França. Portugal tinha pela frente a Alemanha de Jurgen Klinsmann, já com alguns dos que, oito anos depois, iriam humilhar o Brasil de Scolari (Schweinsteiger, Mertesacker, Podolski, Klose e Lahm já estava nessa equipa). “Sentíamos uma grande frustração. Queríamos era voltar para casa e esquecer”, recorda ao PÚBLICO Quim, um dos 23 jogadores portugueses presentes nesse Mundial.
Depois de um empate sem golos ao intervalo, a Alemanha avançou para o triunfo por 3-1 com dois golos de Schweinsteiger e um autogolo de Petit entre os 56’ e os 78’. A resposta portuguesa foi curta e tardia, com Nuno Gomes a marcar aos 88’. Num jogo em que muitas vezes os treinadores aproveitam para rodar a equipa, Scolari utilizou aquela que entendia ser a melhor equipa e Quim acabaria por não sair do banco nesse Mundial, com as redes portuguesas a serem entregues a Ricardo. Mas ele, como os outros, estava preparado para jogar: “Não foi fácil ficarmos motivados depois da derrota. Tem um sabor amargo, mas é para ser jogado.”