Dona do DN, JN, O Jogo e TSF vai despedir 160 trabalhadores

Controlinveste justifica despedimento colectivo e rescisões amigáveis com os maus resultados financeiros do grupo.

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O Diário de Notícias é um dos principais títulos do grupo de Joaquim Oliveira Pedro Valente/Arquivo

O anúncio aos trabalhadores começou a ser feito na manhã desta quarta-feira, de forma faseada. Ao início da manhã, as direcções dos vários órgãos de comunicação social que o grupo detém comunicaram às chefias intermédias, nomeadamente aos editores, o processo de despedimento e identificaram os trabalhadores abrangidos.

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O anúncio aos trabalhadores começou a ser feito na manhã desta quarta-feira, de forma faseada. Ao início da manhã, as direcções dos vários órgãos de comunicação social que o grupo detém comunicaram às chefias intermédias, nomeadamente aos editores, o processo de despedimento e identificaram os trabalhadores abrangidos.

O impacto desta redução é maior no DN, JN, Global Imagens (que integra os fotógrafos, tratamento de imagem e arquivo fotográfico do grupo) e TSF. Dos 160 trabalhadores dispensados, 64 são jornalistas.

Uma concentração de solidariedade e apoio pelos profissionais abrangidos pelo despedimento foi organizada por um grupo de jornalistas, para as 13h de quinta-feira, à porta do edifício do Diário de Notícias, em Lisboa.

A Controlinveste Conteúdos integra actualmente seis jornais, seis suplementos, duas revistas, uma rádio, a rede de canais SportTV, uma agência de comunicação, duas empresas de direitos televisivos, duas distribuidoras de imprensa, duas gráficas e uma agência de viagens.

O PÚBLICO apurou que pelo menos no Diário de Notícias a comunicação a cada trabalhador está a ser feita pelo director do jornal, João Marcelino, que não foi possível ainda contactar, apesar da tentativa. A empresa não tem comissão de trabalhadores.

A estratégia associada ao despedimento poderá passar também pelo encerramento de alguns projectos e/ou de delegações.

O Sindicato dos Jornalistas reuniu-se esta manhã com a administração – o encontro estava marcado há algum tempo, para falar sobre a nova composição da equipa de gestão – e comunicou-lhe que espera que possa estar “aberta ao diálogo” para serem encontradas alternativas para a redução de custos, contou ao PÚBLICO o presidente do sindicato. Os trabalhadores receberão as cartas de comunicação do despedimento durante esta semana e pela lei seguem-se 15 dias de negociação entre trabalhadores, sindicatos e administração, com o acompanhamento do Ministério do Trabalho.

Alfredo Maia classifica o número de trabalhadores dispensados “assustador” do ponto de vista da já reduzida capacidade actual das redacções destas publicações, lembrando que têm sido “alvo de sucessivas levas de rescisões”. Por isso, acrescenta, “não será possível desenvolver o esforço que é naturalmente exigível para assegurar em quantidade e em qualidade o serviço que é preciso prestar”.

A previsão de que sejam reduzidas ao mínimo as delegações do DN no Porto e a do JN em Lisboa, assim como a possibilidade de estarem incluídos trabalhadores correspondentes “compromete a presença no território”, fazendo com que “o país real deixe de aparecer nos media”, avisa Alfredo Maia, lembrando que a agência noticiosa Lusa tem seguido a mesma opção nos últimos meses.
 

Processo “doloroso”, avisa a administração

A Controlinveste Conteúdos justifica o despedimento colectivo e as rescisões amigáveis com os maus resultados financeiros do sector em Portugal e na Europa e especificamente do grupo. No comunicado que enviou aos trabalhadores na manhã desta quarta-feira, a administração diz que no âmbito do plano de cortes de custos com efeitos imediatos que iniciou foram identificadas rubricas que permitirão uma poupança de 5,5 milhões de euros por ano.

A equipa liderada desde Dezembro pelo advogado Daniel Proença de Carvalho justifica os cortes nos quadros de pessoal com a crise no sector dos media, que levou a uma redução constante da facturação na publicidade e nas vendas dos títulos. Afirma que nos últimos três anos foi feito um esforço para melhorar o desempenho económico e financeiro da empresa; porém, esta continua a ter “consideráveis” resultados negativos antes de impostos. “A continuação desta performance negativa colocaria em causa a viabilidade da nossa empresa”, avisa a administração.

Por isso, diz que precisa de tomar medidas urgentes e indispensáveis para a sobrevivência do grupo e a sustentabilidade do negócio e para não afectar negativamente a diversidade e pluralidade do universo dos media portugueses. Admitindo que, “infelizmente, este processo não é possível de realizar sem dor”, a empresa afirma que as equipas terão de ser adequadas às “novas realidades do mercado”.

A equipa presidida por Proença de Carvalho termina a informação aos trabalhadores pedindo o seu apoio e promete para breve novidades editoriais que lhe permitirão “inovar para crescer” e que abrirá uma “nova era” no panorama dos media portugueses, permitindo à empresa crescer de forma sustentada. “Sabemos que o tempo não pára e que só com disciplina financeira, rigor, credibilidade, audácia, ambição, imaginação e muita motivação atingiremos os nossos objectivos”, acrescenta a administração.

O despedimento de trabalhadores era um assunto recorrente há alguns meses no seio da Controlinveste, sobretudo devido ao processo de reestruturação que o grupo começou já no ano passado e que incluiu uma nova estrutura accionista com a participação da banca devido à dimensão da dívida.

No final de Novembro, a Controlinveste Media anunciou a entrada no capital do grupo do empresário angolano António Mosquito, que ficava com uma quota de 27,5% (igual à da Controlinveste de Joaquim Oliveira), dos bancos Millennium bcp e BES e do empresário português Luís Montez, qualquer deles com partes iguais de 15%. A entrada das duas instituições bancárias na empresa foi feita no âmbito de uma "conversão parcial de créditos em capital", anunciou a administração na altura.

A Controlinveste foi já alvo de pelo menos dois despedimentos colectivos de grande dimensão nos últimos cinco anos. No início de 2009, o grupo liderado por Joaquim Oliveira anunciou o despedimento de 122 trabalhadores, no começo do Verão de 2010 recorreu novamente a tal expediente na sequência do encerramento do jornal diário 24 Horas e do jornal gratuito Global Notícias.