Em São João da Madeira todos os narizes contam para melhorar a qualidade do ar

De Junho a Outubro, os habitantes vão andar de nariz no ar para avaliar se os cheiros que sentem são bons ou muito antes pelo contrário.

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Rui gaudêncio

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As novas tecnologias são um aliado importante neste teste. As percepções de odores podem ser registadas directamente numa plataforma web ou numa versão da aplicação para Smartphone, de seu nome Citizen Monitoring, ou ainda nos telemóveis que disponham do sistema operativo Android. O modelo é simples. Os participantes acedem à plataforma e registam a apreciação que fazem do ar naquele momento, com referência à data, hora e localização geográfica. No site aparecerão os resultados das avaliações feitas ao ambiente num mapa com pontos amarelos, verdes ou vermelhos – conforme as apreciações positivas ou negativas. O sistema permite ver não apenas o estado actual do ar, como o anterior através de uma barra cronológica. E não só. Além de apalpar o pulso aos odores, consegue fazer previsões, cruzando vários dados com as condições meteorológicas.

“O objectivo último é que a qualidade do ar em São João da Madeira venha a ter total aprovação dos cidadãos, como sendo óptima 100 por cento do tempo”, revela Ricardo Figueiredo, presidente da câmara são-joanense. “Os narizes são insubstituíveis, não há equipamento capaz de os substituir”, acrescenta o autarca que fala num “projecto de cidadania”. A avaliação dos cheiros por parte dos cidadãos é importante neste processo, as empresas podem monitorizar a sua actividade, e os resultados obtidos funcionarão como uma bússola para eventualmente mudar procedimentos e práticas empresariais.

O lançamento do projecto decorrerá num workshop numa data especial, 5 de Junho, Dia Mundial do Ambiente, na Sanjotec - Centro Empresarial e Tecnológico de São João da Madeira. O teste conta com a participação de empresas locais, representantes de vários sectores industriais, e que, pelas suas características, lancem odores para a atmosfera. Cidadãos e empresas são assim peças chave neste projecto piloto coordenado pelo grupo holandês Odournet, que actua na área de consultadoria ambiental na gestão de odores, numa parceria com a câmara local e a Sanjotec. O contexto dinâmico e industrial da cidade chamou a atenção da multinacional que trabalha na área do ambiente com filiais na Alemanha, Reino Unido, Espanha, França, entre outros países.

Ricardo Figueiredo vê a cidade são-joanense como uma smart city enquadrada num living lab. “É um território pequeno, muito concentrado, com muitos habitantes, com muita indústria e serviços. É um ecossistema muito interessante para se constituir como living lab”, refere. A cidade tem já uma rede de sensores ambientais - de pressão, temperatura e luminosidade - instalado na Sanjotec e que envolveu a Critical Software. Tem também contadores de electricidade de nova geração que permite ao consumidor interagir e avaliar consumos. E chega agora mais uma rede em que os sensores são os narizes. “Equipamos a cidade com redes tecnológicas para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos”, sublinha o autarca.