Três suicídios na PSP com arma de serviço num mês e meio

Um polícia foi encontrado morto na Serra de Sintra este domingo. Agentes defendem o reforço dos meios do gabinete de psicologia da PSP e a criação de uma comissão que analise a situação e tome medidas.

Foto

“Por vezes, desarmar os agentes tem efeitos negativos. É uma questão delicada. Esses agentes recebem menos salário. Ficam sem suplemento de patrulha e de turno e não podem fazer serviços [extras] remunerados. O gabinete de psicologia da PSP deve ser reforçado com mais pessoal. Com a crise e as dificuldades financeiras, há cada vez mais casos de agentes em situações difíceis”, disse ao PÚBLICO o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Policia (ASPP), Paulo Rodrigues.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Por vezes, desarmar os agentes tem efeitos negativos. É uma questão delicada. Esses agentes recebem menos salário. Ficam sem suplemento de patrulha e de turno e não podem fazer serviços [extras] remunerados. O gabinete de psicologia da PSP deve ser reforçado com mais pessoal. Com a crise e as dificuldades financeiras, há cada vez mais casos de agentes em situações difíceis”, disse ao PÚBLICO o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Policia (ASPP), Paulo Rodrigues.

O presidente do Sindicato Nacional da Polícia, Armando Ferreira, defende a criação de uma “comissão multidisciplinar transversal a todas as polícias para estudar o problema e encontrar as melhores medidas para evitar o aumento do fenómeno”.

Já o presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia, António Ramos, considera que polícias com problemas psicológicos "devem ser logo desarmados”. A Direcção Nacional da PSP não respondeu às questões do PÚBLICO até à hora da publicação desta notícia.

A polícia encontrou o corpo do agente madeirense — que trabalhava na esquadra de Carcavelos, Cascais — pouco antes das 11h com a arma de serviço ao lado. Terá sido com ela que disparou o tiro fatal, garantiram ao PÚBLICO fontes policiais. Segundo os seus colegas, o agente estava a ser acompanhado pelo gabinete de psicologia da PSP. E teria sido avisado por uma hierarquia superior de que iria ser desarmado.

O aviso, sem o desarmamento imediato, terá perturbado ainda mais o jovem, que já antes havia sido retirado do curso de ingresso numa esquadra de turismo por estar com apoio psicológico.

Após esse aviso, o agente ficou incontactável e não aparecia ao serviço havia dois dias, pelo que a Divisão da PSP de Cascais lançou um alerta interno a todos os agentes, chegando mesmo a organizar meios de busca em alguns locais. O carro do polícia acabou por ser encontrado na noite deste sábado, mas a mata densa da serra de Sintra e a noite cerrada só permitiram a descoberta do agente na manhã de domingo.

A 12 de Maio, outro agente da PSP suicidou-se com um tiro na esquadra de Caxias, Oeiras. O polícia de 29 anos, que morreu já no hospital, tinha-se divorciado havia quatro meses e estava a ser acompanhado pelo gabinete de psicologia. Também neste caso, havia sido notificado para entregar a arma de serviço, o que não chegou a fazer.

Antes, a 3 de Abril, um agente da Divisão de Segurança Aeroportuária de Lisboa pôs termo à vida usando, em casa, a arma de serviço que lhe teria sido devolvida havia dois meses, depois de ter estado muito tempo desarmado. Nessa altura, os colegas ficaram admirados pela devolução da arma a um agente considerado em risco. O agente, que passou por uma doença grave e um divórcio que o perturbou, estava também a ser acompanhado psicologicamente.

Linhas de apoio SOS Voz Amiga (das 16 às 24h) 21 354 45 45/91 280 26 69/96 352 46 60/Telefone da Amizade: 22 832 35 35/808 22 33 53