Aquele maldito guião de Bela Guttmann
Os milhares no Parque Eduardo VII, em Lisboa, começaram a tarde confiantes e festivos. O que poderia falhar? À medida que a bola teimava em não entrar, porém, começaram a sussurrar o que ninguém queria enfrentar: “Perder duas finais seguidas...” Ninguém acreditava na maldição de Bela Guttmann, mas eis que ela teima em não largar o Benfica.
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando
os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que
querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o
mundo, a pensar e decidir.
A verdade faz-nos mais fortes
Dois segundos depois, a dúvida era insignificante. Cardozo (ou seria Lima?) rematou como se impunha mas Beto, o guarda-redes português do Sevilha, defendeu como não se esperava. Sim, seria um momento dramaticamente perfeito. Mas se o futebol é o desporto do povo, é-o por duas razões: por ser o mais democrático, e por recusar teimosamente seguir um guião pré-definido.
Meia-hora depois, enquanto a lua brilhava no céu de Lisboa e o Marquês de Pombal continuava, arrogante, de costas voltadas para os benfiquistas, completamente esquecido da camisola vermelha que vestiu há poucas semanas, aqueles que viveram durante mais de duas horas entre a crença arrancada do fundo da alma e a dúvida angustiante (será que vai acontecer outra vez?) viam Cardozo falhar o primeiro dos dois penálties que confirmaram o que nenhum benfiquista queria viver (aconteceu mesmo outra vez).
Às 19h, o ambiente era de festa, misto de bancada de estádio e piquenique de Verão. Palco montado, ecrã gigante preparado e a malta a cantar as “papoilas saltitantes” e o campeão que voltou enquanto se ajeitavam no chão as mantas e as arcas com bebida fresca. Camisolas encarnadas por todo o lado, sorrisos abertos. Que poderia falhar?