Na Premier League os milagres acontecem

O Sunderland fintou a despromoção com uma espectacular “grande fuga”.

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Houve um toque divino na sobrevivência do Sunderland na Premier League DR

Ninguém no seu perfeito juízo acreditava que era possível ao Sunderland evitar a despromoção. Há menos de um mês os black cats sofriam mais uma derrota, em casa frente ao Everton (0-1), e permaneciam amarrados ao último lugar da classificação, a sete pontos da primeira equipa acima da “linha de água”. A equipa precisava de um milagre, admitia o próprio Gus Poyet. Muitos já davam por consumado o regresso ao segundo escalão do futebol inglês. Três semanas e meia depois eis que o Sunderland celebra a manutenção, após a vitória de quarta-feira sobre o West Bromwich (2-0), a quarta consecutiva a contar para o campeonato.

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Ninguém no seu perfeito juízo acreditava que era possível ao Sunderland evitar a despromoção. Há menos de um mês os black cats sofriam mais uma derrota, em casa frente ao Everton (0-1), e permaneciam amarrados ao último lugar da classificação, a sete pontos da primeira equipa acima da “linha de água”. A equipa precisava de um milagre, admitia o próprio Gus Poyet. Muitos já davam por consumado o regresso ao segundo escalão do futebol inglês. Três semanas e meia depois eis que o Sunderland celebra a manutenção, após a vitória de quarta-feira sobre o West Bromwich (2-0), a quarta consecutiva a contar para o campeonato.

“Não sei se voltaremos a ver algo semelhante. Somos a segunda equipa na história da Premier League a passar o Natal em último lugar e a conseguir a manutenção. Foi uma época incrivelmente difícil e por momentos pareceu que íamos descer. De agora em diante vou começar a acreditar em milagres. Este é um dos melhores dias da minha vida”, confessou Gus Poyet no final da partida, descrevendo a sobrevivência do Sunderland na Premier League como o seu “maior feito”.

Ajuda divina
As coisas começaram a correr mal ao Sunderland logo desde o início da temporada. O controverso Paolo Di Canio resistiu cinco jogos (um empate e quatro derrotas), antes de ser substituído interinamente por Kevin Ball. Gus Poyet chegou em Outubro para tentar inverter a situação: um ponto em sete jogos. Para além da contratação do técnico uruguaio, o Sunderland movia-se noutros tabuleiros – no final de Outubro, de visita ao Vaticano, o padre Marc Lyden-Smith, capelão do Sunderland, levou uma camisola dos black cats ao Papa Francisco.

Coincidência ou não, Gus Poyet conseguiu duas vitórias nos primeiros quatro jogos a contar para a Premier League. Mas o Sunderland rapidamente voltou à depressão. Enquanto brilhavam na Taça da Liga inglesa (afastaram Chelsea e Manchester United, tendo sido apenas batidos pelo Manchester City na final), afundavam-se na classificação da Premier League. A meio de Abril os black cats acumulavam nove jogos seguidos sem ganhar (sete derrotas) e eram cada vez mais últimos, a sete pontos da salvação.

E então, no momento mais complicado, tudo mudou. Quando o calendário se tornava mais difícil, a equipa metamorfoseou-se e deu a volta por cima: na visita ao Manchester City empatou 2-2 (esteve a vencer 1-2 mas um erro do guarda-redes Vito Mannone hipotecou o triunfo). Depois foi a Stamford Bridge impor a primeira derrota caseira ao Chelsea de José Mourinho em 78 jogos na Premier League. A seguir recebeu e venceu o Cardiff City por 4-0, deixando a zona de despromoção. A salvação ficou à mão de semear com mais um triunfo fora de casa: foi a Old Trafford ganhar ao Manchester United (0-1) pela primeira vez desde 1968.

O triunfo sobre o West Bromwich foi o quarto consecutivo para o campeonato, algo que o Sunderland não conseguia há 14 anos. E, numa noite chuvosa, permitiu um momento de descontracção pela primeira vez em vários meses. “Até a chuva me parece adorável. Estou absolutamente encantado, orgulhoso pelo que alcançámos, contente pelos jogadores, adeptos e clube. Fui contratado para alcançar um objectivo e conseguimo-lo. Vamos ser lembrados para sempre”, sublinhou Gus Poyet.

As “grandes fugas”
O feito do Sunderland entra para a história da Premier League: é apenas a segunda equipa que, ocupando o último lugar da classificação no Natal, logra manter-se no principal escalão. A outra tinha sido o West Bromwich, em 2004-05. Mas há outros exemplos de recuperações espantosas: Fulham 2007-08 (penúltimo a cinco pontos da manutenção com três jornadas por disputar) ou Bradford City, 1999-2000 (penúltimo a seis pontos da salvação e a cinco jornadas do fim).

O Sunderland entrou para a galeria. Fundado em Outubro de 1879, ostenta no currículo seis títulos de campeão inglês, o último dos quais em 1935-36. Os black cats foram o primeiro emblema a conquistar três títulos (1891-92, 1892-93 e 1894-95), para além de terem sido o primeiro a marcar 100 golos numa temporada. E foram protagonistas da primeira transferência feita por um valor na casa dos quatro dígitos, em 1905, ao venderem Alf Common ao Middlesbrough por mil libras. A temporada 2013-14 é mais uma página histórica do clube.

Gus Poyet ascendeu, por direito próprio, ao estatuto de herói do Sunderland. Mas o padre Marc Lyden-Smith também desempenhou um papel importante na “grande fuga”. Na quarta-feira, após a confirmação da sobrevivência na Premier League, escreveu na rede social Twitter: “É impossível, disse o orgulho. É arriscado, disse a experiência. É inútil, disse a razão. Tenta, sussurrou o coração”. Eles tentaram. E conseguiram.

Notícia actualizada às 12h18 de 09-05-2014 com correcção da nacionalidade do treinador Gus Poyet