O dia da culpa

Os filhos são uns ingratos. Nunca hão-de pagar o que devem.

Mas outras há, mais interessantes, que se revoltam pelo facto de terem sido convidadas só por ser Dia da Mãe. Vê-se logo que muitas nem sequer queriam vir e só lá estão por magnanimidade, para evitar cenas.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Mas outras há, mais interessantes, que se revoltam pelo facto de terem sido convidadas só por ser Dia da Mãe. Vê-se logo que muitas nem sequer queriam vir e só lá estão por magnanimidade, para evitar cenas.

Rabujam e respondem torto. As mais tortas adoptam a táctica do silêncio. Outras empregam habilmente a técnica da demência selectiva. Por exemplo: só respondem às perguntas cuja resposta possa ser "não".

"O que é que a mãe acha da praia?" Silêncio. "A mãe gostava muito de vir aqui comer com o pai?" Resposta imediata: "Eu não". "Mas vinha cá muito!", protesta amavelmente o filho, E ela: "Não". "Nunca cá veio? É a primeira vez?", insiste o filho, já triunfantemente irritado. A mãe olha para ele com aquele olhar que diz "como pude ser eu a trazer para o mundo tamanha besta?" e responde "Não".

É o contrário do que acontece no dia de São Valentim. Aí, ai de quem se esquece. No Dia da Mãe quanto maior a lembrança, maior a vingança. Na atmosfera pesa a pergunta oprimente: "E os outros 364 dias do ano, são dias de quê?"

Nunca está escondida a contraproposta: "Olha o que seria de ti, depois do dia em que nasceste, se eu só tratasse de ti no Dia do Filho, uma vez por ano?"

É por isso que não há Dia do Filho. Não merecem. São uns ingratos. Nunca hão-de pagar o que devem.