A designer que foi a Milão a pedir um euro nas ruas de Lisboa

“Dizia que precisava de 1000 amigos e pedia um euro a cada um. Se não tivesse esse dinheiro, seria excluída da Feira Internacional de Design de Milão

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Em 2011, quando a Feira Internacional de Design de Milão a distinguiu como um dos 150 talentos jovens do design, Ana Fatia não possuia a verba necessária para estar presente no evento. No entanto, a única convidada portuguesa conseguiu a quantia de que precisava, através de uma campanha publicitária que construiu em torno de si própria, e desde então tem conseguido estar presente nos principais centros do design a nível mundial.

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Em 2011, quando a Feira Internacional de Design de Milão a distinguiu como um dos 150 talentos jovens do design, Ana Fatia não possuia a verba necessária para estar presente no evento. No entanto, a única convidada portuguesa conseguiu a quantia de que precisava, através de uma campanha publicitária que construiu em torno de si própria, e desde então tem conseguido estar presente nos principais centros do design a nível mundial.

“Quando recebi a notícia, tinha de pagar uma enorme quantia em duas semanas, e não havia plataformas de "crowdfunding" online em que me pudesse inserir, devido à falta de tempo.” Perante outro obstáculo, o calendário, Ana Fatia tomou uma atitude que hoje aplida de “naïf”, mas que a levou a expor-se: “Acreditava que aquilo ia mudar a minha vida e, por isso, decidi ir pedir para a rua, com uma estratégia de 'marketing' montada”.

Na Rua Garrett, entre A Brasileira e os Armazéns do Chiado, em Lisboa, Ana Fatia reuniu-se durante alguns dias com um grupo de amigos, que a ajudavam a contar a sua história a quem passava. “Dizia que precisava de 1000 amigos e pedia um euro a cada um. Se não tivesse esse dinheiro, seria excluída da feira.” Com "t-shirts", um "slogan" definido, e até mesmo fotógrafos destacados, a designer quis criar alarido e cultivar a curiosidade em quem por ali passava.

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Em três dias juntou 3500 euros. “Mas não podemos esperar receber nem que sejam cinco cêntimos e não ter tempo para as pessoas. Temos de abrir o jogo e ser frontais.” Para além de contar a sua história, Ana Fatia criou uma página no Facebook para partilhar fotografias e informações. Até porque, quando conseguiu a quantia que precisava para a exposição, muitas foram as pessoas que contribuíram, sem quaisquer conhecimentos de design, que ficaram curiosas e quiseram acompanhar o seu percurso. “Ainda hoje me contactam a perguntar como está o meu trabalho".

A comunicação pelas redes sociais foi também uma das formas que a designer encontrou de retribuir o que os seus pequenos “sponsors” lhe tinham dado. “As pessoas podiam ver que eu estava em Milão, que o dinheiro que tinham dado estava a ser investido”.

"Em vez de chorar, fui à luta"

“O design é a minha vida. É isto que eu sempre quis fazer. E acredito que o dinheiro não deve ser o problema, mas sim a solução”. A visão apaixonada da profissão e o carácter de “guerreira” que reconhece em si própria levou a designer de produto a não ficar à espera de investidores. “Podia simplesmente ter ficado com a ideia de que um dia fui convidada a expor e chorar: Não tenho, não posso, os meus pais não são ricos. Mas em vez de chorar, fui à luta”, observa a designer ao P3.

Especializada em design industrial, terminou em 2009 o curso de Design Industrial na Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha, e desde logo quis tirar do papel as suas peças inspiradas sobretudo na anatomia feminina, e que se inserem na colecção Mother Mine & All of Us. Adaptações e inovações em cada uma destas peças foram apresentadas por duas vezes na Feira do Design em Milão (em 2012 e em 2013), e também numa exposição no Museu de Moda e Design de Paris. A venda das peças nas várias exposições tem servido para cobrir os investimentos feitos e proporcionar novos voos.

Ana Fatia regressou recentemente da feira de Shanghai (que decorreu entre 27 de Fevereiro e 2 de Março), e que lhe proporcionou o primeiro contacto com o mercado asiático, uma experiência com implicações logísticas consideráveis e que começou a ser preparada em Junho de 2013. As aprendizagens e as noções globais de mercado que trouxe da cidade chinesa foram valiosos, de tal forma que a designer já planeia voltar à feira asiática numa nova viagem agendada para o próximo ano, onde quer dar a conhecer algumas peças inéditas que estão agora em fase de construção.