Liverpool parou para assinalar os 25 anos da tragédia de Hillsborough

Um quarto de século após o acidente que fez 96 mortos, continua a reivindicar-se justiça para as vítimas e respectivas famílias.

Foto
Liverpool continua a pedir justiça para as vítimas e respectivas famílias Paul Ellis/AFP

No dia em que se cumpriu um quarto de século sobre a tragédia ocorrida durante o jogo das meias-finais da Taça de Inglaterra entre os reds e o Nottingham Forest, Liverpool parou – os transportes públicos não circularam, não houve trânsito nos túneis que passam sob o Mersey e às 15h06 (hora a que se desencadearam os acontecimentos em 1989) os sinos tocaram 96 vezes, uma por cada vítima.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

No dia em que se cumpriu um quarto de século sobre a tragédia ocorrida durante o jogo das meias-finais da Taça de Inglaterra entre os reds e o Nottingham Forest, Liverpool parou – os transportes públicos não circularam, não houve trânsito nos túneis que passam sob o Mersey e às 15h06 (hora a que se desencadearam os acontecimentos em 1989) os sinos tocaram 96 vezes, uma por cada vítima.

Mais de 25 mil pessoas estiveram nas bancadas de Anfield para assistir à cerimónia, presenciada como é tradição pelos futebolistas do Liverpool. Entre eles o capitão Steven Gerrard, que há 25 anos perdeu o primo Jon-Paul Gilhooley (a mais jovem vítima da tragédia, com dez anos). No final da vitória de domingo sobre o Manchester City (3-2), que deixou os reds em boa posição para se sagrarem campeões de Inglaterra, Gerrard chorou. Não só porque este é sempre um momento especial do ano, mas também porque conquistar o título seria a melhor forma de homenagear as vítimas e respectivas famílias, admitiu o internacional inglês.

Os nomes das vítimas foram lidos no estádio e sobre o relvado havia um 96 gigante, formado com cachecóis vindos de todo o mundo. A ocasião voltou a ser aproveitada para reivindicar justiça para as vítimas da tragédia: depois de, inicialmente, o ónus ter sido colocado sobre as próprias vítimas, o Supremo Tribunal revogou esse veredicto na sequência de uma investigação independente que concluiu que, em 41 dos casos, havia hipóteses de sobrevivência se a assistência médica tivesse sido mais rápida. Também seguem em curso inquéritos à actuação policial no dia 15 de Abril de 1989.

“Aqueles que perdemos, e aqueles que têm lutado incansavelmente em seu nome e dos sobreviventes, são uma verdadeira inspiração”, sublinhou o treinador do Liverpool, Brendan Rodgers, prestando homenagem Kenny Dalglish, técnico dos reds na altura da tragédia: “A liderança, dignidade e coragem demonstradas naquele tempo foram mais inspiradoras que qualquer golo marcado ou qualquer troféu e servem de exemplo para todos nós”.

O treinador escocês, autêntico ícone do Liverpool (vestiu a camisola do clube entre 1977 e 1991, tendo acumulado o cargo de treinador desde 1985), aconselhou os jogadores a visitarem as famílias das vítimas para lhes levar algum consolo. Bruce Grobbelaar, o guarda-redes da equipa, recordou à BBC uma visita em particular: “Fui ver uma família em Birkenhead. Bati à porta, abriram e disseram-me que eu lhes tinha matado o filho. E fecharam a porta. O filho tinha ido ver-me e eles culpavam-me”. “Responsabilizavam-me pelo que aconteceu. Expliquei-lhes que o filho tinha ido ver-me jogar pela equipa que amava e que só queria ver-nos triunfar naquele dia. Era a paixão dele. Aí eles saíram e abraçámo-nos. Foi consolador para eles e para mim. Sei que outros jogadores passaram por experiências semelhantes”, contou Grobbelaar.