APAV de Vila Real quer criar equipa móvel de apoio a idosos vítimas de crime

O objectivo é conseguir uma maior proximidade para que as vítimas tenham um interlocutor directo.

Foto
Proprietária do lar está a ser julgada por maus tratos João Henriques (arquivo)

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Segundo dados nacionais da APAV, de “2002 até ao ano de 2009 houve um crescimento de 20,4% no total de idosos vítimas de crime, abrangendo um universo superior a 4000 vítimas”. Em 2013, a APAV apoiou “8733 vítimas directas de um crime, das quais 6985 eram pessoas adultas até aos 64 anos, 973 eram crianças e jovens e 774 eram idosos, que representam 8,9% do total das vítimas“. Com a acentuada falta de estruturas mais desenvolvidas de apoio a esta faixa etária e com o aumento da violência contra os idosos na última década, prestar apoio aos mais velhos tornou-se uma prioridade da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima de Vila Real.

De acordo com dados da Guarda Nacional Republicana divulgados no âmbito da operação “Censos Sénior”, existem actualmente no distrito de Vila Real “2272 idosos que vivem sozinhos e/ou isolados, sendo que outros 864 idosos, que não se enquadram nas situações anteriores, se encontram numa situação de vulnerabilidade, considerando as suas limitações físicas e/ou psicológicas”.

Para responder a este problema, Elisa Brito, responsável do Gabinete de Vila Real da APAV, propôs um projecto cujo “objectivo é estar mais próximo das pessoas idosas vítimas de crime devido à maior dificuldade que têm em aceder aos nossos serviços e ao facto de se sentirem cada vez mais isoladas. Este grupo etário acaba por ter uma fragilidade social muito grande.” Segundo esta responsável, “a APAV de Vila Real pretende trabalhar em parceria com as instituições locais, ao nível da segurança social, dos municípios, dos serviços de saúde, das áreas jurídicas, das forças policiais, muitas vezes essenciais para garantirem a segurança das vítimas, o apoio psicológico ou com qualquer outro tipo de apoio a idosos”.

Sempre houve situações de crimes contra idosos, no entanto, diz Elisa Brito, esta realidade, “ultimamente, começou a ter maior visibilidade em Portugal através do trabalho desenvolvido pela APAV, pela segurança social e por outras entidades de apoio, pela maior divulgação desta situação através dos meios de comunicação social e um pouco também pela condição da pessoa idosa na sociedade actual”.

Devido a uma maior divulgação destes casos, as denúncias têm aumentado. Contudo, adianta Elisa Brito, “são muito poucos os idosos a pedirem a ajuda directamente. Normalmente são pessoas que conhecem o caso, familiares, vizinhos, amigos ou pessoas próximas da pessoa idosa que acabam por denunciar estas situações. Mas são também aqueles que lhes são próximos que "são, regra geral, os principais agressores: o próprio conjugue ou familiares directos com que a vítima coabita ou então mesmo os responsáveis pelo idoso que não são familiares”.

A ser aprovado, a equipa deste projecto-piloto terá uma imensa tarefa pela frente: "Parece-nos que os casos que nos chegam são poucos, são apenas a ponta do iceberg. Haverá muita mais necessidade de apoio junto desta faixa etária. O Estado também tem de olhar com mais atenção para este grupo e seria importante trabalhar um sistema de apoio mais integrado para que os idosos possam ter qualidade de vida acima de tudo”.