As andorinhas entre nós

Cinco horas antes, estávamos nas Odrinhas e, dos cantos dos nossos olhos (no sentido estritamente musical que só os olhos têm), vimos quatro andorinhas a voar de alegria.

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Cinco horas antes, estávamos nas Odrinhas e, dos cantos dos nossos olhos (no sentido estritamente musical que só os olhos têm), vimos quatro andorinhas a voar de alegria.

Passavam à nossa frente, seguindo o caminho de um ribeiro que estava a acabar os dias de Inverno. Os ingleses chamam winterbournes – nascidos no Inverno – a estes riachos que desaparecem no Verão.

As primeiras andorinhas de 2014 – para além do milagre de terem chegado, de mais de sete mil quilómetros de viagem, e do medo de não sobreviverem ou de não lhes apetecer fazer férias, que vem dar ao mesmo – são azulinhas e invulgarmente gordas e atrevidas.

Os passarinhos residentes estavam todos incomodados. Tinham chegado os chatos dos campeões do voo, com os bronzeados da África do Sul. Tal como nós, não percebiam por que é que estas andorinhas se tinham dado ao trabalho de vir até Sintra quando se poderiam ter ficado pelo Algarve ou por Marrocos.

Muitas seguem até à Inglaterra. Devem gostar mais da Primavera fresca e molhada do que propriamente do Verão, ao qual estão mais do que habituadas na África do Sul.

Seja como for, a felicidade é toda nossa. Os olhos dançam; o coração levanta; a alma vai parar-nos à ponta dos dedos. As andorinhas estão, mais uma abençoada vez, entre nós.

Que alívio. Que bom!