A refundação da Rádio Comercial com a dose certa de humor

Há dois anos líder de audiências, a rádio celebra agora 35 anos de existência. Um renascer a que não escapa a aposta no humor.

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A Rádio Comercial conquistou, pela primeira vez, a liderança PÚBLICO

São sete horas, o sol ainda não se exibe em plenitude e já estão no ar as manhãs da Comercial, programa que se estende até às 11 horas. Durante as quatro horas de emissão matutina, a equipa oferece o “essencial da informação”, informação do tempo e do trânsito – coisas típicas de qualquer rádio, dir-se-ia. Mas não. Rubricas como O Homem que Mordeu o Cão, da autoria de Nuno Markl, e a Mixórdia de Temáticas, do humorista Ricardo Araújo Pereira, são “mais-valias” das manhãs da rádio e fazem parte da identidade do programa.

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São sete horas, o sol ainda não se exibe em plenitude e já estão no ar as manhãs da Comercial, programa que se estende até às 11 horas. Durante as quatro horas de emissão matutina, a equipa oferece o “essencial da informação”, informação do tempo e do trânsito – coisas típicas de qualquer rádio, dir-se-ia. Mas não. Rubricas como O Homem que Mordeu o Cão, da autoria de Nuno Markl, e a Mixórdia de Temáticas, do humorista Ricardo Araújo Pereira, são “mais-valias” das manhãs da rádio e fazem parte da identidade do programa.

Líder de audiências desde o segundo trimestre de 2012 até à data, com mais de 1,4 milhões de ouvintes em antena, tendo ultrapassado a concorrente RFM, a Rádio Comercial é a única marca de media em Portugal a assinalar um milhão de fãs no facebook. <_o3a_p>

Numa conversa, intercalada com a emissão, piadas e boa disposição, o PÚBLICO sentou-se na mesa-redonda do estúdio da Rádio Comercial para saber a razão de tanto sucesso.

Vasco Palmeirim apressa-se a adiantar uma hipótese: “Uma das coisas que levam as pessoas a gostarem muito da rádio é perceberem que nós, de facto, somos muito amigos, e que essa amizade e cumplicidade se nota muito bem”. “Somos todos amigos à excepção do Ricardo Araújo Pereira” (risos), que se terá esquecido de avisar os colegas do seu novo programa na TVI, tendo por isso sido motivo de risota e de brincadeira durante o programa. <_o3a_p>

“O curioso é que não estamos todos os dias bem-dispostos, é o nosso trabalho, não é um fingimento quando se liga o microfone, é como qualquer outro trabalho de atendimento ao público”, diz Vanda Miranda. E esta simpatia de “servir ao público” é algo que não se pode confundir com a ideia de que “a nossa vida é sempre maravilhosa”, defende a animadora. <_o3a_p>

A equipa acredita que a transparência cativa os ouvintes, que se identificam com muitos dos conteúdos e das conversas do quotidiano que ali se geram: “A minha transparência vai ao ponto de eu me humilhar tanto no ar que a minha própria mãe me liga a dizer: 'Tu não devias dizer essas coisas de ti próprio', conta o humorista de O Homem que Mordeu o Cão.<_o3a_p>

Pedro Ribeiro, que aceitou ser director há mais de oito anos, garante, e o resto da equipa assina por baixo, que o que aquela rádio tem de especial é o facto de a equipa funcionar como um elenco onde cada peça tem a sua função específica: “Basta faltar um de nós, para se notar logo. Os ouvintes não só percebem, como sentem a falta”. Nuno Markl faz a comparação com uma peça de comédia, onde cada personagem tem a sua personalidade, só que, no contexto da rádio, é a vida real que está acontecer naqueles instantes. <_o3a_p>

Ora, foi exactamente em 2012, em plena crise económica e financeira, que as audiências começaram a sorrir em grande para a histórica rádio, tornando-a líder de mercado. Será que o humor é a resposta para períodos menos bons do país?<_o3a_p>

“As pessoas estão tão perdidas que levam com qualquer coisa”, brinca Pedro Ribeiro. Contudo, Nuno Markl levanta outra questão: “Há sempre aquele fenómeno que é interessante de ver, que é o fim da linha entre melhorares a vida das pessoas porque lhes contas piadas e as metes bem-dispostas, e quando começas a irritá-las porque acham que estamos demasiado bem-dispostos. Isso também acontece, andamos ali numa corda bamba”. <_o3a_p>

Um longo caminho até à liderança

Passados cinco anos sobre a revolução de 1974, nasceu na Rua de Sampaio Pina, em Lisboa, a Rádio Comercial, criada no âmbito da RDP (Radiodifusão Portuguesa), tendo como director João David Nunes. Logo desde o início da década de 80, a Comercial cativou uma audiência jovem.<_o3a_p>

No entanto, com o desenrolar dos anos e com o surgimento de rádios privadas, no final da década, a Comercial perdeu audiências e entrou numa fase descendente. Seria o princípio do fim como estação estatal. Foi privatizada, vendida ao grupo do Correio da Manhã, mas nem isso fez mudar o cenário das audiências. Isso só viria a acontecer mais tarde, depois de 1997, momento em que a Comercial passa a integrar o grupo da Media Capital, grupo que detém outras rádios e a TVI. <_o3a_p>

Para Pedro Ribeiro, tem que haver um equilíbrio entre informação, que tem que ser séria, e o tom humorístico: “Trabalhamos para um público adulto que precisa saber o essencial da informação, e essa parte tratamos com seriedade”, explica o director, especificando que, “mesmo a relação que existe no ar, a própria relação com os jornalistas, não é uma coisa estanque, isso também faz parte da personalidade do programa”. <_o3a_p>

“Mas também dizemos muita coisa séria a brincar”, remata Vanda Miranda, reconhecendo ainda que as pessoas acabam por seguir os exemplos, acabando por funcionar como opinion makers. <_o3a_p>

Qual foi o momento da viragem da Rádio Comercial? Pedro Ribeiro explica que esse momento deu-se em 2009 com a mudança de administração [para a actual], que permitiu pensar numa estratégia para melhorar o produto, não só em termos humorísticos, mas na definição da identidade da rádio. “Não foi só o humor, foi a música certa, o tom certo, foi o melhorar a rede emissora, foi ter marketing como deve ser, (...) sentimos finalmente apoio para fazer aquilo em que acreditávamos em todas essas vertentes”.

Apostar nos humoristas Nuno Markl e Ricardo Araújo Pereira fez parte dessa “estratégia para tornar o produto melhor e construir uma equipa que fosse vencedora” .

Muito se tem falado no fim da rádio, desde que a Internet surgiu e se generalizou. Para Vanda, um pouco como acontece com o rock and roll, “já anunciaram tantas vezes que iria acabar e, no entanto, continua a fazer parte das vidas das pessoas”. <_o3a_p>

O que acontece, explicam, é que a rádio tem de se reinventar, e aí “a paixão volta”, como o amor nos casais, especifica Vanda Miranda. Nuno Markl confessa que a rádio é o seu trabalho e a sua casa; já a televisão é a piscina, onde mergulha de vez em quando. “Enquanto houver microfone, vou fazer rádio”.

Para comemorar o 35.º aniversário, a Rádio Comercial vai transformar a rádio num espectáculo-concerto, desta vez no Norte do país, em Gondomar. No próximo fim-de-semana, o Pavilhão Multiusos de Gondomar vai receber o Parabéns In The Night, um espectáculo que inclui artistas como Ana Moura, Mafalda Veiga, Miguel Araújo, Expensive Soul, entre outros. Além da equipa completa das manhãs, que vai cantar e animar os fãs com as conhecidas rubricas humorísticas.  <_o3a_p>