Do centro comercial à Baixa lisboeta, quase só a bica escapa à factura

Clientes estão de olhos postos no carro do fisco, embora alguns acreditem que será difícil vencer o sorteio. Do lado dos comerciantes, a reacção é mista: há quem tema filas de espera mais longas e quem garanta que pouco muda.

Luísa Duarte acabou de sair do hipermercado, mas sem compras. “Não encontrei o que queria”, justifica. O que quer sempre é factura com contribuinte. “Já é hábito lá em casa. Em quase tudo.” Só escapa “a bica” porque “não vale a pena”, diz, encolhendo os ombros. As opiniões divergem, no entanto. Cláudia Borges nunca pede factura com NIF, a não ser em compras de elevado valor porque acredita que ganhar o automóvel prometido pelo fisco é como “sair o Euromilhões”, com probabilidades muito reduzidas.

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Luísa Duarte acabou de sair do hipermercado, mas sem compras. “Não encontrei o que queria”, justifica. O que quer sempre é factura com contribuinte. “Já é hábito lá em casa. Em quase tudo.” Só escapa “a bica” porque “não vale a pena”, diz, encolhendo os ombros. As opiniões divergem, no entanto. Cláudia Borges nunca pede factura com NIF, a não ser em compras de elevado valor porque acredita que ganhar o automóvel prometido pelo fisco é como “sair o Euromilhões”, com probabilidades muito reduzidas.

Na Pastelaria Nené, na Rua Augusta, Pedro Marques diz que, em cem clientes, apenas dez pedem factura com contribuinte. “Não sentimos ainda nenhuma diferença, mas quando for sorteado o primeiro carro, penso que haverá uma correria às facturas”, afirma. Aí o trabalho atrasará. “Enquanto está um cliente à espera que eu coloque os números no computador, estão outros quatro à espera que eu tire um café.”

Mais abaixo, no Cais do Sodré, a funcionária da Pastelaria Caneças explica que os consumos mais pequenos continuam a passar ao lado das facturas. Fátima Aguiar refere que a grande mudança se nota à hora do almoço, quando a conta é mais elevada. A introdução do NIF dos clientes já se tornou hábito neste estabelecimento e, por isso, do anúncio do Governo não se espera impactos significativos no volume de trabalho.

De volta ao hipermercado, Vera explica que já estão habituados a emitir facturas, e por isso não “atrapalha muito o trabalho”. Mas para quem está na fila de espera, é preciso aguardar um pouco mais. “E os portugueses não têm muita paciência”, comenta. A impressão da factura tem de ser feita no rectângulo de papel tricolor, rosa, amarelo e azul. Coloca-se na impressora, que volta a imprimir o talão, agora com o NIF e nome do cliente.

São duas da tarde e o cabeleireiro onde Cristina Varela trabalha, num centro comercial da capital, está vazio. Enquanto faz algumas anotações, ressalva que sentiu que agora os clientes pedem mais facturas com contribuinte. “Não só querem, como ainda comentam que talvez lhes saia o carro”, conta. Mas este aumento nos pedidos não alterou a rotina, visto que basta digitar o NIF. Ainda mais, porque têm já muitas vezes o número introduzido no sistema informático, na ficha de identificação de cada cliente.

No cabeleireiro em frente, Vânia Pinto diz que já se brinca com o sorteio do fisco. “Então não quer ganhar um carro?”, pergunta aos clientes. A resposta é quase sempre a mesma: a factura é para sair com NIF. “Nunca se sabe se lhes sai...”, diz. Enquanto consumidora, a funcionária não vê o concurso com os mesmos olhos. “E depois do sorteio quem é que suporta as despesas com o automóvel?”, questiona.