Poupem a língua
O vendedor tenta sempre convencer o otário de que está a fazer um belo negócio.
Uma feira de coisas em segunda mão (desculpem, queria dizer vintage) convida "todos os nossos amigos" a vir à grande festa ao ar livre... de velharias para comprar. "Tragam toda a família", continua generosamente, sendo logo depois obrigada a mostrar o flanco: "Tragam dinheiro! (Não temos Multibanco)."
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Uma feira de coisas em segunda mão (desculpem, queria dizer vintage) convida "todos os nossos amigos" a vir à grande festa ao ar livre... de velharias para comprar. "Tragam toda a família", continua generosamente, sendo logo depois obrigada a mostrar o flanco: "Tragam dinheiro! (Não temos Multibanco)."
Mais valia terem começado logo pelo "Tragam dinheiro". Seria mais original, sincero e convincente.
As falsas ofertas, se fossem inteiramente sinceras, diriam: "Venha perder tempo e dinheiro a ver coisas em que não está interessado! Pague a sua própria deslocação! Nós precisamos do seu dinheiro, custe o que lhe custar!"
O objectivo é sempre a transferência de dinheiro da sua carteira – onde estava tão bem – para a carteira do vendedor, mediante a entrega de uma merda qualquer.
O vendedor tenta sempre convencer o otário de que está a fazer um belo negócio. Digam-lhe o que disserem, quem vende é que fica sempre a ganhar. O jogo é simples: ganha quem fica com mais dinheiro do que quando começou.
É por isso que as vendas são sempre descritas como "ofertas", "promoções", "poupanças" e "oportunidades únicas".
Poupe-se ao menos a língua portuguesa. Ainda tem graça ir às compras – mas só sabendo ao que vamos.