Como conseguem?

Como é que ninguém se lembrou de estudar os cães? São eles que têm o segredo da felicidade.

Ao restaurante onde estávamos a almoçar chegaram dois amigos com dois cães igualmente bem-dispostos. Com uma sincronia olímpica estavam os dois a sorrir e a olhar fixamente para os donos. "Estão na expectativa", explicaram-nos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Ao restaurante onde estávamos a almoçar chegaram dois amigos com dois cães igualmente bem-dispostos. Com uma sincronia olímpica estavam os dois a sorrir e a olhar fixamente para os donos. "Estão na expectativa", explicaram-nos.

E era verdade. Acreditavam que, no futuro imediato, haveria petiscos para eles. Estavam com as duas pessoas de que mais gostam no mundo, à espera de comer qualquer coisita boa. Como é que não poderiam estar optimistas?

"Nós não somos assim", disse um dos seres humanos. Pois não. Nós somos neuróticos. Pensamos sempre que poderíamos estar melhor: poderia ser Verão; poderíamos ser mais novos; poderíamos ter mais tempo para estarmos uns com os outros.

Os cães nunca pensam nessas merdas. Não perdem tempo ou energia mental a contemplar alternativas. Estão cem por cento no aqui e no agora. Acham que as condições actuais são excelentes, que têm imensa sorte de estar ali e que tudo indica que as coisas ainda vão – inconcebivelmente – melhorar.

Como é que ninguém se lembrou de estudar os cães? São eles que têm o segredo da felicidade. Sabem amar como ninguém e fazem a festa toda com os pequenos gestos de amor que recebem das pessoas que amam.

Duas gaivotas palermas divertiam-se a desafiar a ventania, fingindo que estavam imóveis, suspensas por dois fios. Desprezavam a alegria dos cães. Mas faziam mal.