Professores boicotaram exames e queimaram provas em Beja

Nenhum dos 192 professores convocados realizou prova em Beja, alegando um pretexto comum à esmagadora maioria: “Já fomos avaliados nas universidades.”

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Miguel Manso (arquivo)

Em três salas de aula e no ginásio da escola, 192 professores contratados e vigiados por 11 dos 180 colegas que foram convocados para esta função nem sequer iniciaram a prova. Alguns levantaram-se das cadeiras e permaneceram de pé. Este gesto rapidamente foi seguido por todos os outros. As salas de exame foram-se esvaziando e os docentes concentraram-se nos corredores da escola. Um barulho ensurdecedor fez-se então ouvir, com as batidas dos pés e de carteiras que se encontravam amontoadas fora das salas. “Vergonha, vergonha” foi a frase que passou então a ouvir-se. Alguns dos que deveriam fazer a prova no ginásio da escola queimaram os enunciados, um gesto que fez disparar o alarme contra incêndios, enquanto se gritava “não à prova”, revelou Jorge Simão, dirigente do Sindicato dos Professores da Zona Sul, facto que foi confirmado por alguns professores.

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Em três salas de aula e no ginásio da escola, 192 professores contratados e vigiados por 11 dos 180 colegas que foram convocados para esta função nem sequer iniciaram a prova. Alguns levantaram-se das cadeiras e permaneceram de pé. Este gesto rapidamente foi seguido por todos os outros. As salas de exame foram-se esvaziando e os docentes concentraram-se nos corredores da escola. Um barulho ensurdecedor fez-se então ouvir, com as batidas dos pés e de carteiras que se encontravam amontoadas fora das salas. “Vergonha, vergonha” foi a frase que passou então a ouvir-se. Alguns dos que deveriam fazer a prova no ginásio da escola queimaram os enunciados, um gesto que fez disparar o alarme contra incêndios, enquanto se gritava “não à prova”, revelou Jorge Simão, dirigente do Sindicato dos Professores da Zona Sul, facto que foi confirmado por alguns professores.

O PÚBLICO deslocou-se ao interior da escola e confirmou a revolta dos professores. “Não há provas para ninguém”, adiantou uma das docentes que se recusou a ser avaliada, descrevendo uma situação que não acontece com os alunos. “Colocaram as carteiras encostadas umas às outras e cinco professores a vigiar cerca de 120 pessoas. Isto não se faz”, protestou a docente.

“Ainda bem que os alunos não estão cá para ver isto”, desabafou outra professora, que disse sentir-se humilhada com a realização de uma prova que “afinal não avalia de forma justa”. Há dez anos que lecciona e agora receia que os alunos que foram avaliados por si coloquem em causa o que ensinou.
  
Dentro das salas ficaram apenas os docentes que tinham como tarefa vigiar os seus colegas. A sua expressão revelava um indisfarçável mal-estar pelo rumo que as coisas tomaram.

Em protesto, os professores cantavam Grândola, vila morena e o impasse manteve-se. Hora e meia depois do início da prova, nem um dos 192 professores que deveriam ser avaliados acedeu a prestar prova na Escola Secundária D.Manuel I, onde se concentrou a maioria dos docentes do distrito de Beja.

À entrada para o estabelecimento de ensino, dezenas de professores afixaram numa corda, presa entre duas árvores, as suas certificações de licenciaturas e mestrados feitos nas mais diversas universidades portuguesas e institutos politécnicos.