Portugal "não tem moral para dar lições às ex-colónias", escreve colunista do Jornal de Angola

O artigo de opinião é publicado no dia em que o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação chegou a Luanda para preparar cimeira luso-angolana.

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Rui Machete Miguel Manso

Ao mesmo tempo, prossegue o articulista, Portugal “declara-se indemne aos factores tóxicos da corrupção e imune a agentes corruptos, corruptores ou corruptíveis”.

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Ao mesmo tempo, prossegue o articulista, Portugal “declara-se indemne aos factores tóxicos da corrupção e imune a agentes corruptos, corruptores ou corruptíveis”.

“Mas os comportamentos travestem-se, pois sobram-lhes imensos exemplos, desses que chegam até nós, de políticos, inclusive parlamentares e figuras públicas portuguesas, altamente corruptas. Que moral tem, pois, Portugal para, em matérias desta natureza, dar lições às ex-colónias? Faz o que digo, não faças o que faço?”, questiona Carlos Pombares.

Segundo o articulista, a imprensa portuguesa, bem como “determinados políticos e muitas outras figuras públicas portuguesas, que verberaram irracionalmente contra o pedido de desculpas apresentado por um governante português a Angola” representa “o sofisma da humilhação que eles sentem naquelas palavras relativamente ao Povo Angolano”.

“Em boa verdade, não foi tanto pelo facto do desrespeito pela separação dos poderes constitucionais portugueses, mas pela humilhação de um pedido de desculpas aos angolanos. A soberba irracional dessa gente nunca lhes permitiu pedir perdão ou desculpas ao Povo Angolano pelos maus tratos, humilhação e desonra infligidos durante tantos anos de ditadura e exploração colonial", acrescenta-se no texto.

O texto, publicado no dia em que o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Luís Campos Ferreira, inicia uma visita de trabalho a Angola, classifica a descolonização como “uma vergonhosa retirada”, que deixou a nu “toda a sua incompetência”.

“Apenas lhes sobrou uma réstia de sentimento colonialista que remeteu o país para uma segunda guerra fratricida, na qual até se assumiram como agentes activos, manobrando algumas forças da sua elite militar e combativa”, vinca o articulista.

A visita de Luís Campos Ferreira coincide com um momento de particular tensão nas relações luso-angolanas, que envolve o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, que, em entrevista à Rádio Nacional de Angola, pediu desculpa a Angola por investigações do Ministério Público português a empresários angolanos, o que levou os partidos da oposição em Portugal a pedirem a sua demissão.