Cientistas finalizam relatório que reafirma culpa humana no aquecimento global

Painel da ONU iniciou reunião final para concluir a mais recente avaliação sobre a ciência das alterações climáticas.

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O aquecimento global tem efeitos nos glaciares e no nível da água do mar Reuters

Numa reunião iniciada nesta segunda-feira em Estocolmo, cientistas e representantes governamentais vão discutir, linha a linha, a redacção final do relatório sobre o que se sabe hoje acerca das alterações climáticas. Versões preliminares do documento classificam como “extremamente provável” (95% de certeza) que mais de metade da subida do termómetro global desde 1950 se deve às actividades humanas.

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Numa reunião iniciada nesta segunda-feira em Estocolmo, cientistas e representantes governamentais vão discutir, linha a linha, a redacção final do relatório sobre o que se sabe hoje acerca das alterações climáticas. Versões preliminares do documento classificam como “extremamente provável” (95% de certeza) que mais de metade da subida do termómetro global desde 1950 se deve às actividades humanas.

“As provas científicas das alterações climáticas são reforçadas ano após ano, deixando poucas incertezas quanto às suas graves consequências”, disse o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, na sessão de abertura da reunião de Estocolmo.

O que está sobre a mesa agora é a avaliação da base científica sobre as alterações climáticas. Dois outros relatórios – sobre os impactos e sobre a redução das causas do aquecimento global – serão publicados mais tarde, em Março e Abril de 2014.

Neste primeiro relatório, 259 autores principais, secundados por centenas de outros cientistas, passaram a pente fino toda a produção académica desde a última avaliação do IPCC, em 2007. Cerca de 55 mil comentários foram recebidos e avaliados.

Segundo versões recentes do relatório, o termómetro global poderá subir até 4,8 graus Celsius até 2100, no pior cenário, ou apenas 0,2 graus Celius, no mais favorável. A subida no nível do mar é estimada num intervalo entre 26 a 81 centímetros.

No relatório de 2007, os cenários de aumento de temperatura estavam entre 1,1 e 6,4 graus Celsius e a subida do nível do mar entre 18 e 59 centímetros. Em 2007, havia 90% de confiança na culpa humana sobre a maior parte do aquecimento desde 1950.

Um tema que vai ser abordado no relatório agora é a relativa estabilização da temperatura média global na última década e meia. Esta tendência tem sido utilizada como argumento de sectores que contestam a tese da culpa humana nas alterações climáticas.

A Organização Meteorológica Mundial – que fundou o IPCC juntamente com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, em 1988 – tem chamado à atenção, no entanto, para o facto de a Terra estar a passar pelo seu período mais quente do último século e meio, desde que há registos fiáveis.

Entre as explicações possíveis dadas por cientistas para a subida menor da temperatura nos últimos anos estão variações na actividade solar e a absorção de calor pelos oceanos.

Durante quatro dias, o relatório do IPCC vai ser discutido, ponto a ponto, não só por cientistas, mas também por representantes governamentais – que têm assento no painel climático da ONU. Na sexta-feira, o IPCC deverá divulgar uma síntese do relatório, com cerca de três dezenas de páginas.

Esta é a quinta avaliação climática do IPCC, desde a sua a criação. A organização foi galardoada com Prémio Nobel da Paz em 2007, juntamente com o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore. Nos últimos anos, tem sido alvo de críticas, devido a erros encontrados no seu último relatório, em particular sobre o possível derretimento dos glaciares no futuro.