Eles reinventam cartazes para virar o Porto ao contrário

O movimento "E se virássemos o Porto ao contrário?", apoiado pelo Bloco de Esquerda, promete reinventar a cidade (e os seus outdoors). Uma nova vida foi dada a sete dos velhos cartazes pelas mãos de sete artistas

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Dato Daraselia

Francisca Bartilotti Matos, 20 anos, candidata à Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Aldoar, Foz e Nevogilde. Adelaide Rosa Teixeira, 70 anos, candidata à Assembleia Municipal e parte integrante da lista candidata à Assembleia da Freguesia de Ramalde. Encontrámo-las com as mãos na massa, ou melhor, na tinta, junto ao novo cartaz do Bloco de Esquerda. O antigo apelava: "tudo o que foi roubado deve ser devolvido". O novo pede "mais transportes públicos".

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Francisca Bartilotti Matos, 20 anos, candidata à Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Aldoar, Foz e Nevogilde. Adelaide Rosa Teixeira, 70 anos, candidata à Assembleia Municipal e parte integrante da lista candidata à Assembleia da Freguesia de Ramalde. Encontrámo-las com as mãos na massa, ou melhor, na tinta, junto ao novo cartaz do Bloco de Esquerda. O antigo apelava: "tudo o que foi roubado deve ser devolvido". O novo pede "mais transportes públicos".

Naquele dia estava a ser executado o quinto dos sete cartazes do BE que por estes dias estão a ser pintados na chapa. Sete artistas portuenses foram convidados a ilustrar sete dos temas fulcrais da campanha. Todos doaram o seu trabalho embora nenhum dos autores tivesse inicialmente filiação ao partido.

"Quisemos fazer a campanha pelas nossas próprias mãos, que não seja só um anúncio, mas a prefiguração do tipo de cidade que as pessoas do movimento gostavam que existisse. Gostaríamos que a cidade tivesse um governo local que criasse mais espaços de expressão para os artistas, em vez de os retirar". De camisa azul desabotoada sobre t-shirt branca e mãos sujas de tinta, José Soeiro (Zé, como todos carinhosamente lhe chamam), explica o porquê da iniciativa. "Como uma vez disse Boal [Augusto Boal, teatrólogo brasileiro, pai do teatro do oprimido]: "todas as pessoas podem fazer teatro, até mesmo os actores", também nós defendemos que toda a gente pode fazer política, até os políticos.”

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A cara de José Soeiro pelas mãos de José Carlos de Paiva Dato Daraselia

A cara do Zé na chapa

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Os esboços do trabalho de JAS Dato Daraselia

Na rotunda do nó de Francos encontrámos a obra de Fernando José Pereira, docente da FBAUP, sobre o mote "tanta gente sem casa tanta casa sem gente". Trata-se de uma composição fotográfica a preto e branco a partir de fotos do especialista em arte pública. O tema pretende que o eleitor estabeleça a associação a uma das mais fervorosas posições da campanha: a "disponibilização de casas a preços decentes, no centro da cidade". 

Primeiro, colou-se a cara do "Zé" na chapa. Depois, pintou-se por cima. José Carlos de Paiva, igualmente docente na FBAUP, serviu-se da impressão como guia para pintar a acrílico. O presidente da Gesto - Cooperativa Cultural afirma ter-se "metido nisto" para “tentar compreender o incompreensível”. "Gente, Urgente, Insurgente", lê-se em Bessa Leite.

Prosseguimos para o Jardim do Cálem, em Lordelo do Ouro, onde o writer Tiago Gomes, ou melhor, o Go Mes nos esperava. O tema é o bairro do Aleixo e o graffiti foi a técnica usada. O artista, ajudado por outros writers como Bac e Bent, "insurgiu-se" durante dois dias para mostrar aos portuenses o que significa para ele "devolver o Porto às pessoas". As figuras vermelhas que lhe são características fogem para a margem esquerda do Rio Douro enquanto as torres do Aleixo se afundam. Provocações ao actual presidente e a um outro candidato são perceptíveis.

"Vontade visceral de mudar o mundo" 

Sofia Lomba não se entusiasmou em demasia quando percebeu que ia ser entrevistada. Mas a hesitação inicial não a impediu de nos explicar a inspiração por detrás do seu trabalho "tão aberto": "O desenho tem a ver com o meu trabalho, faço muitos desenhos viscerais", conta a pintora. E acrescenta: "Ilustra essa vontade visceral de mudar o mundo, de fazer algo pela cidade que nos habita e que nós habitamos". A frase da Regina Guimarães, "Fazemos das tripas coração e do coração cidade", reforça o sentido do outdoor junto à Faculdade de Letras. O processo, que demorou quatro horas, "foi o mais rápido", contam.

A pintora nunca fez parte de nenhum partido. "Faço parte do movimento, não tem nada a ver com o BE. É o movimento que nos une. E claro que todos somos orientados para tirar uma direita do poder." Aliás, a forte presença de independentes é algo que testemunhámos, visto pelo candidato como um sinal da "convergência entre a militância política e a militância social" nesta campanha.

A obra de JAS estava apenas a começar a ganhar forma quando chegamos ao local, perto do Hospital de São João. Guiado por uma impressão pintou com acrílico sobre o papel o tema transportes e mobilidade. O artista plástico contou-nos que quis ilustrar a frase da campanha "E se virássemos o Porto ao contrário?" e, simultaneamente, o mote "Mais transportes públicos".

O artista busca reinventar a cidade: "Sou apoiante do partido, fui convidado como artista e gosto muito de poder colaborar. Não quis receber nada e sinto-me realizado por as pessoas terem oportunidade de ver o meu trabalho de forma gratuita, como um bem de todos."

A pintura à mão não é uma técnica exclusiva dos "outdoors". As "oficinas de criação colectiva de materias de campanha" são outro espaço de criação de cartazes, esses de tamanho mais reduzido, desta feita com mensagens especialmente dirigidas aos locais onde são colocados. É uma tentativa de "devolver o Rivoli à cidade". Ou de conseguir um "horário das bibliotecas mais alargado".