Vandalização da estátua ao cónego Melo pode chegar a tribunal, PCP demarca-se

Filipe Barroso, do grupo que promoveu a homenagem, disse à Lusa que tem imagens do acto de vandalismo, escusando-se, no entanto, a revelar quaisquer outros pormenores.

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Filipe Barroso, do grupo que promoveu a homenagem, disse à Lusa que tem imagens do acto de vandalismo, escusando-se, no entanto, a revelar quaisquer outros pormenores.

"Neste momento, o que podemos dizer é que nós colocámos a estátua em plena luz do dia, enquanto quem a vandalizou se acobardou no escuro da noite", acrescentou.

O PCP de Braga, um dos partidos que mais tem contestado a estátua, já afirmou, em comunicado, que "nada tem a ver" com aqueles actos de vandalismo, sublinhando, no entanto, que os mesmos "são a expressão do descontentamento que se alastra aos diferentes sectores da sociedade, evidenciando a falta de consenso na cidade de Braga sobre o assunto".

"O PCP alerta para as provocações anticomunistas que podem vir a precipitar-se face a tamanha operação de branqueamento dos únicos responsáveis pela instabilidade política e social que hoje se vive na cidade", acrescenta o comunicado.

Segundo Filipe Barroso, a queixa em tribunal pode ser extensiva a alguns dos presentes na manifestação contra a estátua que decorreu na segunda-feira, pelos termos "difamatórios" que usaram e pelas palavras de “incentivo à violência".

A estátua ao cónego Melo, instalada no sábado na cidade de Braga, foi vandalizada durante a última noite, com as palavras "fascista" e "assassino" pintadas a vermelho no pedestal.

Na lateral, está também pintada uma referência ao "padre Max", um sacerdote relacionado com a extrema-esquerda assassinado em 1976.

Além disso, foi ainda atirada tinta azul para o conjunto escultórico, que atingiu a própria estátua.
Na segunda-feira, uma centena de pessoas concentrou-se junto à estátua e exigiu a sua remoção, alegando que o homenageado era "um admirador confesso do Estado Novo e do ditador Oliveira Salazar".

Os manifestantes colaram no pedestal uma "biografia" do cónego Melo, que hoje já lá não está, em que sublinhavam a alegada "simpatia" do sacerdote por movimentos de extrema-direita.

"[O cónego Melo] ficaria conhecido, após o 25 de Abril, por ter apoiado organizações de extrema direita, apostadas no derrube do regime democrático, através de acções armadas que vieram a acontecer, com relevantes danos e vítimas humanas, e às quais deu cobertura moral e operacional", lia-se.

O documento referia ainda que o homenageado era "bem relacionado com o poder económico e político locais", tendo primado a sua acção "como intermediário de interesses privados" e usado a sua "capacidade de influência em favor dos amigos e daqueles que lhe eram subservientes".

Carlos Silva, professor universitário e um dos rostos da contestação, acusou o cónego Melo de ter orquestrado "ataques a sedes de partidos democráticos, como o PCP, de sindicatos e de outras organizações de esquerda".

O representante lançou o apelo aos que discordam da estátua para "cuspirem em sinal de desprezo, mesmo que seja com compreensíveis palavrões, à boa maneira minhota".

Na Câmara, a instalação da peça foi aprovada com os votos favoráveis do PS e com a abstenção dos vereadores eleitos pela coligação Juntos por Braga.

Na contestação à estátua têm tido particular protagonismo o PCP e o Bloco de Esquerda, que dizem que o cónego Melo "apoiou atentados bombistas, designadamente o que vitimou o padre Max".