Presidente do Egipto resiste apesar de ultimato do Exército estar a chegar ao fim

“Se o preço que devo pagar por defender a legitimidade é o meu sangue, estou disposto a pagá-lo", disse Morsi. Já depois do discurso, pelo menos 16 pessoas foram mortas.

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“Se o preço que devo pagar por defender a legitimidade é o meu sangue, estou disposto a pagá-lo pelo meu país”, disse Morsi, num discurso em que responsabilizou “os rostos do antigo regime” – de Hosni Mubarak – pela crise que o país vive. O chefe de Estado islamista alertou contra a “armadilha” de uma violência “sem fim”.

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“Se o preço que devo pagar por defender a legitimidade é o meu sangue, estou disposto a pagá-lo pelo meu país”, disse Morsi, num discurso em que responsabilizou “os rostos do antigo regime” – de Hosni Mubarak – pela crise que o país vive. O chefe de Estado islamista alertou contra a “armadilha” de uma violência “sem fim”.

“A única coisa que posso dizer aos opositores é que protejam o Egipto e protejam a legitimidade”, afirmou também. “ O povo elegeu-me em eleições livres e justas.”

Pouco antes do discurso de 45 minutos transmitido pela televisão, na sua conta no Twitter, segundo a AFP, Morsi pediu aos militares para “retirarem a sua advertência” e rejeitou o “diktat"– uma referência ao ultimato, considerado pelos seus apoiantes um golpe de força para o levar à demissão. Já na madrugada de terça-feira, numa nota da Presidência, Morsi tinha rejeitado o ultimato militar.

Depois do discurso em que defendeu a sua legitimidade, 16 pessoas morreram em confrontos junto à Universidade do Cairo. Segundo o Ministério da Saúde, as “16 pessoas mortas e 200 feridas” foram vítimas de um ataque a partidários de Morsi. Sete outras perderam a vida noutros incidentes, segundo fontes médicas citadas pela AFP. A agitação da última semana no Egipto já fez 47 mortos, de acordo com o balanço da agência.

Na noite de terça-feira, opositores de Morsi ocuparam a emblemática Praça Tahrir e a área em redor do palácio presidencial gritando: “Sai”. As forças de segurança mobilizaram reforços para as imediações da Tahrir.

O discurso de Morsi na terça-feira à noite ocorreu depois de um encontro com o ministro da Defesa e chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas, general Abdel Fattah al-Sissi.

No caso de rejeição do ultimato, o Exército, que diz não pretender fazer um “golpe” mas pretender que sejam “satisfeitas as  reivindicações do povo”, tem planos para suspender a Constituição por um período que poderia chegar a um ano, dissolver o Senado e nomear um conselho presidencial que assegure o poder até que haja nova Constituição e novas eleições.

O movimento Tamarrod (Rebelião), que junta a maioria dos grupos laicos e de esquerda e que apelou às últimas grandes manifestações, reagiu ao discurso de Morsi, acusando-o de “ameaçar o povo”. Este grupo tinha também feito um ultimato a Morsi para se demitir até terça-feira à tarde, sob pena de lançar uma campanha de desobediência civil.

Desde segunda-feira, cinco ministros e o porta-voz de Morsi apresentaram a demissão.

As forças da oposição anunciaram como sua única “voz”  Mohamed ElBaradei, antigo chefe da Agência Internacional de Energia Atómica, para “preparar um cenário” de “transição política”.