Um site para tentar investir no próximo Google

A plataforma permite seleccionar start-ups e investir pequenos montantes. A ideia foi lançada por um português em Inglaterra e deverá chegar ao resto da Europa este ano.

i-video

O site da Seedrs foi lançado em meados do ano passado. É uma plataforma que permite a praticamente qualquer pessoa investir numa start-up – e esperar que esta se torne o próximo Google ou Facebook.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O site da Seedrs foi lançado em meados do ano passado. É uma plataforma que permite a praticamente qualquer pessoa investir numa start-up – e esperar que esta se torne o próximo Google ou Facebook.

O conceito é simples. Por um lado, a Seedrs quer facilitar o acesso a capital por parte de empresas que estão a mesmo a começar e que ainda têm dificuldade em atrair investidores. “Aqueles primeiros 50 mil euros, 40 mil euros, nem que seja só para criar o protótipo”, explica Carlos Silva. “Empresas de capital de risco investem valores muito maiores numa fase muito mais adiantada dos projectos. E, portanto, a não ser que haja alguém com dinheiro na família ou algum amigo rico, é muito difícil financiar esses projectos”. Por outro lado, a Seedrs pretende democratizar o acesso à possibilidade de investir numa start-ups em troca de parte do capital social, algo que tipicamente está reservado a investidores profissionais.

A ideia foi amadurecida no âmbito do próprio MBA, onde os estudantes tinham de se juntar em grupos e desenvolver um projecto. Foi também aí que conheceu o outro co-fundador da Seedrs, um advogado americano radicado em Inglaterra, com um percurso ligado a negócios de fusão e aquisição de empresas.

Em 2009, terminado o curso, os dois abriram a empresa com um capital social de 100 libras, recorda Carlos Silva numa conversa nas instalações portuguesas da Seedrs. Em Lisboa, a empresa funciona num escritório espaçoso, com várias salas mas sem luxos, num velho prédio de apartamentos. Trabalham aqui nove pessoas, essencialmente ligadas ao desenvolvimento tecnológico da plataforma. Em Inglaterra, está o resto da equipa, que trata das questões financeiras, legais e institucionais. Na altura da entrevista, Carlos Silva está a poucas horas de apanhar um voo para Londres: viaja frequentemente entre as duas capitais.

Um bom senhorio
Criada a empresa, o problema imediato era arranjar dinheiro que sustentasse os dois fundadores durante os primeiros passos do projecto. Calcularam que iam precisar de 40 mil libras. Foi neste ponto que um conhecimento quase acidental se tornou útil.

Carlos Silva alugara uma casa em Oxford quando decidira fazer o MBA. Tudo fora tratado através de uma agência imobiliária e nem sequer sabia quem era o senhorio. Um dia, este enviou uma carta porque queria visitar a casa e verificar se se tudo estava em ordem. Carlos Silva, “no bom espírito de um MBA”, foi “imediatamente ao LinkedIn” tentar perceber quem era o senhorio. Descobriu que se tratava de um business angel (o nome dado a quem investe em empresas numa fase muito inicial, quando o risco é muito elevado) e convidou-o para um chá.

Na altura do chá na casa em Oxford, a Seedrs ainda não existia. Mas, meses depois, quando os dois sócios procuravam capital para arrancar, Carlos Silva ligou ao senhorio. “O facto de nos conhecermos antes dava alguma confiança”. Convenceu-o a investir 20 mil libras na Seedrs. Cada um dos fundadores desembolsou mais dez mil libras.

O senhorio não foi o único. Carlos Silva diz já ter perdido a conta às distribuições de capital que fez por amigos e família que aceitaram investir. Mais tarde, vieram a conseguir um milhão de libras de investimento, em troca de 25% do capital. Actualmente, os dois co-fundadores têm uma quota “um pouco acima dos 45%”.

Micro-investimentos
Na Seedrs, é possível investir muito pouco (o mínimo são dez libras, cerca de 12 euros) e o dinheiro pode ser distribuído por mais do que um projecto.

Há semelhanças com os sites de angariação colectiva de fundos, como o conhecido Kickstarter, onde qualquer pessoa pode apoiar os projectos que quiser – mas, nestes casos, é mais frequente o utilizador recebe um agradecimento, um pin, uma t-shirt ou uma versão inicial do produto. Nas start-ups listadas na Seedrs, o investidor recebe uma quota na empresa, que tanto pode vir valorizar-se como acabar a não valer nada. A ideia foi também inspirada no Kiva, um site onde qualquer pessoa pode fazer um empréstimo (sem juros) a pequenos projectos de empreendedorismo em países em desenvolvimento.

Qualquer start-up pode estar listada na plataforma. No site, estão desde emprendedores que querem lançar aplicações e serviços online, até uma empresa da Irlanda do Norte que quer fazer queijos artesanais.

A empresa decide que investimento pretende e que parte do capital social está disposta a dar em troca. Tipicamente, para um financiamento de 100 mil libras, as empresas na Seedrs vendem 20% a 30%. Em média, os utilizadores investem 700 libras, distribuídas por dois ou três projectos. Se as start-ups não conseguirem o financiamento a que se propõem, o dinheiro é devolvido. Caso tenham sucesso em angariar os fundos, a Seedrs fica com uma comissão de 7,5%.

Por ora, tanto as empresas como os investidores têm de estar no Reino Unido. Ainda este ano, a Seedrs pretende abrir a plataforma a utilizadores do resto da Europa. Mas, por questões legais, as empresas financiadas terão de ter sede, ou uma subsidiária, no Reino Unido – um processo que já não é estranho no meio do empreendedorismo português, pelo menos na área das tecnologias de informação, onde várias start-ups foram abrir formalmente o negócio em Inglaterra, frequentemente com o objectivo de se tornarem mais atractivas para capital de risco.

O site da Seedrs avisa os potenciais investidores de que há muitos riscos e que o retorno no investimento, se chegar, pode ser demorado. E a equipa não faz qualquer triagem ou avaliação do potencial do negócio, nota Carlos Silva. “Apenas uma apreciação muito leve, para perceber que não é algo completamente ridículo.”

Ao todo, 21 start-ups já conseguiram os respectivos objectivos de angariação de fundos, em valores que foram das 17.500 às 150 mil libras, o máximo permitido na plataforma.