Clubes europeus com prejuízo recorde de 1700 milhões de euros em 2010-11

UEFA insiste que não vai permitir truques para fugir ao fair play financeiro. Com as novas regras em vigor, 46 clubes estariam em risco

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Beckham vai aumentar a folha salarial do PSG, apesar de ter pedido que o seu ordenado fosse doado Gonzalo Fuentes/Reuters

Se os novos regulamentos já estivessem em vigor, 46 dos clubes que participam nas competições europeias (Liga dos Campeões e Liga Europa) estariam em maus lençóis. Uma estimativa da UEFA, que simulou a aplicação das regras com dados das temporadas de 2008-09, 2009-10 e 2010-11, demonstra que 14 emblemas (6% dos que competem nas provas europeias) teriam, no conjunto de três épocas, perdas superiores a 45 milhões de euros, o limite dos limites fixados pela UEFA – o que significa que ficam sujeitos a penalizações, que vão desde a proibição de inscrição de jogadores à exclusão da prova, por exemplo.

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Se os novos regulamentos já estivessem em vigor, 46 dos clubes que participam nas competições europeias (Liga dos Campeões e Liga Europa) estariam em maus lençóis. Uma estimativa da UEFA, que simulou a aplicação das regras com dados das temporadas de 2008-09, 2009-10 e 2010-11, demonstra que 14 emblemas (6% dos que competem nas provas europeias) teriam, no conjunto de três épocas, perdas superiores a 45 milhões de euros, o limite dos limites fixados pela UEFA – o que significa que ficam sujeitos a penalizações, que vão desde a proibição de inscrição de jogadores à exclusão da prova, por exemplo.

Além disso, mais 32 clubes (15%) teriam prejuízos entre cinco e 45 milhões de euros, o que obriga à entrada de capital, sob pena de também serem sancionados. A UEFA não revelou os nomes dos clubes, mas o estudo inclui um gráfico que diz que há clubes portugueses nesta faixa dos prejuízos entre 5 e 45 milhões. O que não constitui exactamente uma surpresa, dadas as contas que os três principais clubes têm apresentado nas últimas temporadas.

A estimativa da UEFA mostra que a generalidade dos clubes (79%) que participam nas provas da UEFA não teria problemas em respeitar o fair play financeiro, embora também registe que 62% de todos os emblemas da Europa desrespeitam pelo menos um ponto do regulamento.

Com o fair play financeiro a entrar em vigor no final desta época, com base nas contas de 2011-12 e 2012-13, não deixa de ser surpreendente que o estudo da UEFA mostre um aumento dos prejuízos, quando a trajectória deveria ser exactamente a contrária.

Emanuel Medeiros, director-executivo da Associação das Ligas Europeias de Futebol Profissional (EPFL), não se mostra surpreendido. “Estes dados podem demonstrar que os clubes continuam a comportar-se como a orquestra do Titanic, que prosseguia a tocar enquanto o barco se afundava. Mas também podem significar investimento de última hora, como se fosse uma última janela de oportunidade, já que a UEFA permitirá um desvio de 45 milhões de euros na primeira avaliação”, analisa este responsável, para quem é urgente que os clubes “abandonem as práticas de risco”: “É importante que encontrem caminhos de maior rigor na gestão dos recursos, sob pena de nem com uma travagem às quatro rodas ser possível evitar o abismo.”

A quinta edição do estudo financeiro da UEFA (que analisou 679 clubes) confirma que o grande problema das finanças do futebol está do lado das despesas e não das receitas. Entre 2007 e 2011, as receitas dos clubes europeus subiram 24%, atingindo os 13.169 milhões de euros em 2010-11, sem contar com transferências de jogadores. As transmissões televisivas (37%) e a publicidade/patrocínios (25%) são as duas parcelas com maior peso. Os prémios da UEFA também assumem um papel importante, especialmente em países mais pequenos (em Portugal rondaram os 20 a 25% das receitas).

Ou seja, a indústria do futebol mostrou uma enorme capacidade para resistir à crise, com um crescimento anual das receitas na ordem dos 5,6% –  o estudo da UEFA refere que, no mesmo período, o crescimento da economia europeia não foi além dos 0,5% por ano. O problema está nos custos, que subiram 38% entre 2007 e 2011, atingindo os 14.800 milhões de euros (113% das receitas). Os salários são a parcela mais pesada, atingindo os 8600 milhões de euros em 2011.

UEFA avisa tubarões

Clubes como o Manchester City e o Paris Saint-Germain têm resistido a controlar custos, graças à injecção de capital estrangeiro. Uma das formas que estes clubes têm estudado para ultrapassar o fair play financeiro (que basicamente obriga a que as receitas sejam superiores às despesas) são mega-contratos de patrocínio com os seus donos. Só que Gianni Infantino, secretário-geral da UEFA, avisou nesta segunda-feira que esses contratos vão ser escrutinados, para perceber se se enquadram no valor de mercado. Emanuel Medeiros, director-executivo da EPFL, diz que esta é mais uma prova que as novas regras devem ser levadas a sério, como demonstra a suspensão do Málaga: “Quem possa ter dúvidas sobre o rigor da aplicação deste processo, pois que tire o cavalinho da chuva, sob pena de se molhar”, avisa o português.