Falso médico que exerceu durante 20 anos acusado de burla

Homem de 58 anos atendia uma média de 50 pessoas por semana em clínicas e lares de idosos da região de Lisboa e Algarve. Foi descoberto ao fim de duas décadas.

Foto
Além do falso médico, foram também acusadas uma médica e uma enfermeira que com ele colaboraram DR

A Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa anunciou nesta terça-feira que o falso médico, a médica verdadeira e uma enfermeira foram acusados, depois de, em Fevereiro de 2011, a Polícia Judiciária ter anunciado a detenção do indivíduo, que manteve sob escuta durante a investigação.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa anunciou nesta terça-feira que o falso médico, a médica verdadeira e uma enfermeira foram acusados, depois de, em Fevereiro de 2011, a Polícia Judiciária ter anunciado a detenção do indivíduo, que manteve sob escuta durante a investigação.

Segundo a acusação da 7.ª Secção do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, a que o PÚBLICO teve acesso, a alegada cumplicidade da médica foi determinante para a continuação da sua actividade, pois seria esta quem lhe fornecia as receitas e vinhetas para que pudesse prescrever medicamentos aos doentes. Mas o papel da enfermeira, com quem mantinha um relacionamento, também foi fulcral, pois esta assumiu, a partir de determinada altura, a gestão formal das clínicas, porque o indivíduo tinha dívidas ao fisco.

Além das consultas nas clínicas e ao domicílio, pelas quais cobrava em média 40 euros, o falso médico fez exames físicos e clínicos, efectuou colheitas de sangue e administrou injecções a centenas de doentes, a quem receitou um vasto rol de medicamentos. Para poder prescrever, além de usar receitas cedidas pela médica, optava muitas vezes por entregar em mão os medicamentos aos pacientes, que nunca desconfiaram que o homem que os estava a consultar não tinha o curso de Medicina. O Ministério Público acredita que atendia entre 40 a 50 pessoas por semana.

Depois de ter iniciado um relacionamento amoroso com a enfermeira, o homem terá engendrado com ela um plano para convencer as pessoas que era um médico experiente ao serviço do maior hospital de Lisboa – o Santa Maria. Para tornar a sua história mais credível, aparecia muitas vezes de bata e socas brancas ou com calças e casaco verde com o nome do hospital da capital. Numa das clínicas, chegou mesmo a mandar fazer para o gabinete que ocupava uma placa intitulada “Dr. C. e S. Medicina Interna”.

A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde instaurou um processo disciplinar à médica, que trabalhava em centros de saúde da Grande Lisboa.