Presidente do Hospital de S. João acusado de “leviandade intelectual intolerável”

Em causa declarações de António Ferreira à TV24, nas quais afirmou que este ano 30 cirurgiões não tinham entrado no bloco operatório da unidade hospitalar.

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António Ferreira indicou que ocorria apenas uma cirurgia por semana para cada médico da especialidade no São João Paulo Pimenta

 

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O presidente do Hospital de São João afirmou numa entrevista à TVI24, a 17 de Dezembro, que este ano 30 cirurgiões não tinham entrado no bloco operatório, e que, calculando a média da actividade cirúrgica do hospital, os resultados fixavam-se em apenas uma cirurgia por semana para cada médico da especialidade. António Ferreira revelou também que a taxa de absentismo no hospital que dirige é de 11%, o que significa uma ausência diária de 660 dos 5600 funcionários que ali trabalham.

O Colégio de Cirurgia Geral da Ordem dos Médicos considera que as afirmações de António Ferreira “pecam de forma grave e leviana” no que diz respeito à cirurgia e aos cirurgiões. “Ao englobar no mesmo ‘saco’ todas as especialidades cirúrgicas e ao dividir aritmeticamente números de cirurgias efetuadas por cirurgião e por semana, mês ou ano, o sr. dr. António Ferreira revelou uma falta de rigor e uma leviandade intelectual intoleráveis. A actividade dos cirurgiões não é a de operadores”, defendeu o Colégio de Cirurgia em comunicado divulgado esta sexta-feira.

O organismo considera ainda que referir que cirurgiões “nunca foram ao Bloco Operatório durante o ano, e que alguns outros só o fizeram por duas vezes, carece de certificação e justificação, e a ser verdade, atentas as possíveis causas de forma séria, devem ser retiradas todas as consequências de ordem profissional e disciplinar para eventuais prevaricadores e para o conselho de administração, que se mostrou incapaz de exercer devidamente as funções a que está obrigado”.

O Colégio de Cirurgia Geral da Ordem dos Médicos reitera, no entanto, “toda a confiança na generalidade dos cirurgiões portugueses”.

Este colégio da Ordem dos Médicos sublinhou que a actividade de um cirurgião não se exerce de forma isolada, que a cirurgia não ocupa todo o tempo de um médico, que a forma como foram apresentados alguns números “pode induzir facilmente em erro”, deixando ainda no comunicado um recado ao Governo.

“Não podemos deixar de referir o insuficiente acesso a blocos e tempos cirúrgicos, da responsabilidade da tutela, um dos factores que mais limita a produtividade cirúrgica dos cirurgiões do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”, declara-se no comunicado.