Mães sem dinheiro dão leite de vaca a bebés, com riscos para saúde

Serviços sociais da Maternidade Alfredo da Costa já receberam mais de mil pedidos de ajuda este ano, que não se limitam à alimentação dos recém-nascidos. “Estamos a recuar 50 anos.”

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Este ano, a Associação de Ajuda ao Recém-Nascido recebeu 3.430 pedidos de ajuda PÚBLICO

Estes casos são do conhecimento dos serviços sociais da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, que cada vez mais atendem mães com “grandes carências”, a maior parte devido ao desemprego, como disse à agência Lusa a assistente social Fátima Xarepe.

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Estes casos são do conhecimento dos serviços sociais da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, que cada vez mais atendem mães com “grandes carências”, a maior parte devido ao desemprego, como disse à agência Lusa a assistente social Fátima Xarepe.

“Todos os dias recebemos pedidos de ajuda”, disse, explicando que os mais frequentes são para a compra de leite em pó, de medicamentos, como vitaminas ou vacinas que não constam do Plano Nacional de Vacinação, e produtos de higiene.

Estas mães “fazem o melhor que podem”, disse Fátima Xarepe, que lamenta nem sempre a maternidade poder ajudar, nomeadamente no fornecimento de leite em pó, apesar de contar com o apoio da Associação de Ajuda ao Recém-Nascido (Banco do Bebé) e outras instituições particulares de solidariedade social.

A pediatra Cristina Matos conhece esta realidade e as consequências da ingestão de leite de vaca antes de um ano de idade, como gastroenterites. “Estamos a recuar 50 anos”, disse à Lusa, acrescentando que são cada vez mais as mães que, para o leite em pó render, juntam mais água do que o devido.

Isso mesmo confirmou a enfermeira Esmeralda, que consegue identificar o acréscimo excessivo de água ao leite em pó, principalmente através do atraso no crescimento do bebé.

Segundo Fátima Xarepe, são mais de mil os pedidos de ajuda que os serviços sociais já receberam este ano, e que não se limitam à alimentação dos recém-nascidos. “Há grávidas que não vêm às consultas de vigilância por não terem dinheiro para os transportes, o que as coloca em risco, assim como aos bebés”, disse esta assistente social, que não tem dúvidas de que estes casos, cada vez mais graves e frequentes, vão aumentar por causa da crise.

Estas profissionais sentem-se impotentes, apesar de tentarem fazer “o melhor” que sabem, pois, apesar de o serviço público de saúde ser gratuito para as grávidas, estas muitas vezes não conseguem assumir outras despesas, como é o caso dos transportes.

“Há grávidas que vêm a pé de Chelas [o que pode demorar cerca de uma hora], porque não têm dinheiro para pagar o transporte”, disse.

Este ano, o Banco do Bebé recebeu 3.430 pedidos de ajuda e foram apoiadas 971 crianças e 62 no domicílio. Dos cerca de 4000 partos anuais na MAC, perto de 10% resultam em crianças sinalizadas por estarem em risco de serem negligenciadas.

A MAC comemora o seu 80.º aniversário nesta quarta-feira, tendo assinalado a efeméride com uma conferência com o psicanalista Coimbra de Matos, durante a qual este falou sobre a importância de cuidar e amar.