Eliminar o estado social da Constituição significa eliminar o alicerce do futuro, diz Adriano Moreira

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Foto: Miguel Manso/arquivo

A construção do futuro “é justamente a esperança, a vontade, a confiança de que o sacrifício vale a pena”, sublinhou o professor universitário, que participava na segunda sessão das Conferências Políticas, subordinadas ao tema “A democracia e o futuro”, promovidas pela Divisão de Acção Cultural da Câmara Municipal de Coimbra (CMC).

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A construção do futuro “é justamente a esperança, a vontade, a confiança de que o sacrifício vale a pena”, sublinhou o professor universitário, que participava na segunda sessão das Conferências Políticas, subordinadas ao tema “A democracia e o futuro”, promovidas pela Divisão de Acção Cultural da Câmara Municipal de Coimbra (CMC).

“Na minha vida, que é tão comprida, nunca vi uma situação tão severa na vida portuguesa como hoje e quando se pede a mobilização da população” é necessário que haja um objectivo.

Para isso, impõe-se a existência de “conceito estratégico do Estado” (mas “o Estado português não tem conceito estratégico, não o definiu”) e que haja “esperança de que o sacrifício vale a pena e vai nessa direcção”, sustentou.

“Se a definição do Estado social for eliminada, acho que se elimina o alicerce da construção do futuro, que é justamente a esperança, a vontade, a confiança de que o sacrifício vale a pena”.

Antes, Adriano Moreira afirmou-se “preocupado” com “o sentido da palavra” ‘refundação’, pois “é extremamente equívoco”.

“Peço desculpa” por recorrer ao Dicionário da Academia das Ciências porque “tenho um pouco de responsabilidade nele”, mas nem aí “encontro facilmente uma directiva para entender o que é isso de refundação do estado”, disse Adriano Moreira.

Mas “aquilo que eu sei”, salientou, “é que ontem [sexta-feira] os reitores das universidades públicas leram, à mesma hora”, os seus respectivos estabelecimento de ensino, um documento referindo que “pelo meio do ano que vem as universidades não poderão pagar salários ao pessoal”.

É claro, concluiu Adriano Moreira, que “há um remédio para isto muito fácil, que é começar a diminuir ou a eliminar aquilo que são directivas da própria Constituição” portuguesa.

“O que está a acontecer com esta orientação, que a senhora Merkl (chanceler alemã] professa, é atirar a esperança pela janela”, salientou.

Na sessão, que se prolongou até ao final da tarde e encheu por completo a sala polivalente da Casa Municipal de Cultura de Coimbra, participaram também, sob moderação da jornalista da RTP Fátima Campos Ferreira, António Arnaut, Avelãs Nunes, Carvalho da Silva e José Miguel Júdice.

As conferências políticas, organizadas pela CMC, em cooperação com a Fundação Bissaya Barreto, integram-se nas comemorações dos 300 anos do nascimento do filósofo iluminista Jean-Jacques Rosseau e dos 250 anos da primeira publicação de ‘O Contrato Social’, obra que, como referem os promotores da iniciativa, “promove e defende conceitos como a inalienável liberdade do Homem ou a soberania do Povo, dois alicerces teóricos da Democracia contemporânea”.