Caçadores reclamam compensação pela existência de coelho bravo, o principal alimento do Lince-Ibérico

“O lince, quando for colocado na natureza, não sobrevive se não se alimentar de coelho bravo, mas os milhares de euros alocados ao projecto não chegam aos caçadores e proprietários que tem suportado os custos da recuperação deste que é o seu principal alimento”, disse à agência Lusa o presidente da Federação Portuguesa de Caça (FENCAÇA), Jacinto Amaro.

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“O lince, quando for colocado na natureza, não sobrevive se não se alimentar de coelho bravo, mas os milhares de euros alocados ao projecto não chegam aos caçadores e proprietários que tem suportado os custos da recuperação deste que é o seu principal alimento”, disse à agência Lusa o presidente da Federação Portuguesa de Caça (FENCAÇA), Jacinto Amaro.

O alerta da FENCAÇA surge numa altura em que, segundo o presidente, “o processo de recria em cativeiro, está a ser bem-sucedido e há animais prestes a serem colocados na natureza”.

De acordo com Jacinto Amaro, a reintrodução do Lince-Ibérico na natureza está prevista para as zonas de Mértola e Moura-Barrancos onde “existem mais de uma centena de zonas de caça associativa que têm suportado os custos da recuperação e manutenção do coelho bravo”, o principal alimento do lince e que “não estão a ser ressarcidos desses custos”.

Se cada lince “comer um coelho por dia, serão 365 coelhos vezes o número de linces em liberdade que desaparecerão e cujos custos da sua reposição recaem sobre caçadores e proprietários”, frisa o responsável pela federação que emitiu já um comunicado em que expressa a preocupação dos associados.

“Já era altura de o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas) perceber que a recuperação do lince só terá sucesso se tiver a envolvência dos proprietários das terras e dos caçadores”, refere o comunicado que denuncia que as verbas do projecto “estão a ser distribuídas por um conjunto de entidades que em nada contribuem para que possa haver sucesso na sua reintrodução”.

Para a FENCAÇA trata-se da “repetição do que foi o desperdício de fundos, há alguns anos, na Serra da Malcata”, onde esteve em curso o projecto de recuperação do Lince, e que poderá comprometer o sucesso da operação.

Os caçadores reclamam que partes das verbas do projecto sejam canalizadas para as associações de caça onde “os caçadores pagam taxas elevadíssimas e não têm benefício nenhum por contribuírem para subsistência do Lince”.

O projecto de recuperação do Lince Ibérico é coordenado pelo ICNF, com base num plano de acção publicado em 2008 e que define o modelo estratégico do programa de reprodução em cativeiro e, numa segunda fase, a recuperação e manutenção do habitat favorável para a reintrodução de espécimes em territórios adequados.

A reprodução em cativeiro foi desenvolvida no Centro de Reprodução de Lince-ibérico, em Silves, que de acordo com o site do ECNF conta com 18 linces (são nove fêmeas e nove machos).

A Lusa questionou o ICNF sobre o número de animais e os locais onde estes serão reintroduzidos na natureza, mas ainda não foi possível obter os esclarecimentos.